VARÍOLA DOS MACACOS

Varíola do macaco: Sem vacina, governo aposta na informação

O ministro Marcelo Queiroga informou que as tratativas para aquisição de vacinas devem ser concluídas hoje

O Ministério da Saúde lançou, ontem, a Campanha Nacional de Prevenção à Varíola dos Macacos, que tem como objetivo orientar a população brasileira em relação à doença. Segundo a pasta, a partir de hoje serão veiculadas informações sobre a monkeypox em TVs, rádios e mídias externas, como outdoors em locais de grande circulação de pessoas, além de portais e redes sociais. "As informações oficiais sobre a doença (serão veiculadas) de forma didática, simples e direta, principalmente em sua forma de transmissão, em como evitar o contágio, os sintomas e o que fazer em caso de suspeita", informou o ministério.

O ministro Marcelo Queiroga também informou que as tratativas para aquisição de vacinas devem ser concluídas hoje.

O governo federal negocia com o laboratório dinamarquês Bavarian Nordic, por intermédio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), para que o Brasil receba um lote de 50 mil vacinas, quantidade que não é suficiente para uma imunização em massa. De acordo com Queiroga, a vacinação em larga escala está descartada. Os imunizantes serão direcionados para profissionais da saúde que tenham contato direto com pessoas infectadas.

"É necessário que haja um contrato a ser firmado pelo Ministério da Saúde com a Opas, para deixar isso bem claro, para que tenhamos uma previsão de entrega dessas vacinas. A previsão era que se entregasse no fim do mês de agosto. A Socorro (Gross, representante da Opas) me informou que seria no começo de setembro. Seriam duas remessas, agora são três. Há uma carência desse insumo a nível mundial", explicou.

Para a campanha nacional, a estratégia formulada pela pasta prioriza quem está em contato direto com a doença. Um dos problemas apontados pelo ministro é a incapacidade do SUS de fazer testes de detecção da doença. "No Alto Amazonas não temos a condição de realizar um teste de monkeypox no presente momento, mas, se houver a necessidade de ampliar, até mesmo para atender a população indígena aldeada ou não, faremos isso", declarou o ministro.

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Imunizantes

Queiroga destacou que os imunizantes "não irão controlar o surto" de monkeypox e que medicamentos contra a doença são, na verdade, "uma complementação à prevenção". O fundamental, de acordo com ele, "é o repasse de informações corretas".

"Vamos conseguir 50 mil doses, mas elas não têm o poder de controlar esse surto. Estão aí para proteger os profissionais de saúde que lidam diretamente com o material contaminado. Com essas 50 mil doses, não dá para proteger todos os profissionais de saúde do Brasil, até porque a maioria deles não lida com essa situação", ressalvou.

O ministro explicou que a vacina é produzida em pequena escala por um laboratório de pequeno porte, "uma pequena indústria da Dinamarca que produzia para atender uma necessidade restrita, e essa pequena indústria não tem condições de escalar a produção de vacina e tampouco há hoje qualquer indicação para vacinação em massa decorrente da varíola dos macacos".

Para ele, o ideal seria o Brasil ter capacidade de produção da vacina. No início de julho, inclusive, o Instituto Butantan anunciou a criação de um comitê para discutir análises, estudos e propostas para uma produção nacional da vacina contra a varíola dos macacos, mas não houve atualizações devido ao início do período de campanhas eleitorais, determinado pelo Superior Tribunal Eleitoral (STE).

"Vulneráveis"

Para José David Urbaez, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) no Distrito Federal, a pequena oferta de vacinas para a doença é um problema real, pois não foi planejada para atender a uma grande demanda. Como a quantidade de imunizantes que o governo vai adquirir é pequena, o especialista defende que sejam priorizados os grupos mais susceptíveis a complicações. "Sou a favor de que seja vacinada, em primeiro lugar, a população vulnerável, que tem sido identificada como uma circunstância que serviu para a introdução desse surto, a qual estudos confirmaram serem de grupos de homens que fazem sexo com homens", explicou. A OMS concluiu que 98,5% dos casos de monkeypox foram registrados em pessoas do sexo masculino.

No mundo, os casos já somam 41,5 mil ocorrências. O Brasil está em terceiro lugar entre os países com maior incidência, com 3,7 mil contaminados. O epicentro é o estado de São Paulo, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais. Na semana passada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) fez um alerta ao Brasil para que decretasse emergência de saúde, o que foi descartado pelo ministro Queiroga por considerar que a doença tem uma baixa letalidade e que a disseminação de informações é suficiente.

"São situações absolutamente distintas. A covid-19 foi identificada em dezembro de 2019, nós não conhecíamos essa doença. Já a varíola dos macacos é conhecida desde 1976, como doença endêmica na África, seja na República Democrática do Congo, seja na região da África Ocidental. A letalidade dessa doença é baixa, o vírus é diferente. Então, no caso da varíola dos macacos, a maior prevenção é a informação correta da forma de contágio dessa doença", esclareceu o ministro.