CONTAGEM POPULACIONAL

Mais de 6 mil recenseadores deixam IBGE em meio a relatos de hostilidade

Profissionais são encarregados de coletar dados do Censo; responder questionário é obrigatório e pode gerar multa

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já efetuou mais de 6,5 mil rescisões de contratos de trabalhadores temporários recrutados para o Censo Demográfico 2022. As desistências ocorrem em meio a relatos de agressões e hostilidade contra os profissionais. O IBGE, no entanto, afirma que o número está "dentro do previsto".

Os profissionais, responsáveis pela coleta dos dados, estão trabalhando desde o início de agosto e têm relatado que muitas pessoas se recusam a responder o questionário, que é obrigatório.

Pelas redes sociais, são muitos os relatos dos trabalhadores sobre a dificuldade que têm sido colher os dados. Também há a reclamação do atraso no pagamento devido aos temporários. De acordo com o IBGE, a situação de 95% dos casos foi regularizada. "Eles ocorreram, em grande parte, por informações incorretas (número da conta e CPF, principalmente) prestadas pelos candidatos aprovados, muitos deles em seu primeiro emprego". 

Em Belo Horizonte, um recenseador chegou a ser vítima de injúria racial. Uma moradora disse que ele tinha "pinta de assaltante". O caso foi denunciado na Delegacia Especializada de Crimes Raciais. 

Em nota, o IBGE afirmou que os casos de violência são encaminhados para os órgãos de segurança e que crimes contra o recenseador estão sujeitos a investigações federais. "Sobre os incidentes, cabe às unidades estaduais do IBGE monitorar caso a caso. A unidade estadual onde eventualmente há ocorrência é orientada a informá-la. O que é informado é encaminhado aos órgãos de segurança. Se necessário, o recenseador receberá apoio da área médica e social. Se a hostilização se tornar violenta, a recomendação do IBGE ao recenseador é inicialmente registrar em delegacia um boletim de ocorrência e comunicar ao coordenador ou ao supervisor para as providências cabíveis", disse. 

O Sindicato de servidores do IBGE atribuiu a desistência aos cortes no orçamento do órgão, o que fez com que a divulgação do Censo fosse prejudicada. "O corte de 75% das verbas de divulgação do Censo está diretamente ligado ao aumento dos casos de agressões e desconfiança em relação aos recenseadores, situação que foi agravada também por ataques verbais do próprio presidente da república e do ministro da economia contra o IBGE. O Sindicato reivindica a recomposição orçamentária emergencial para o Censo e o aumento da remuneração para as trabalhadoras e trabalhadores envolvidos. A situação atual é extremamente grave e coloca em risco todo o desenvolvimento de políticas públicas para os próximos anos, que depende diretamente dos dados produzidos pelo Censo Demográfico", disse em nota. 

Responder o Censo é obrigatório

O Censo ocorre a cada 10 anos e serve para saber qual a situação de vida da população em cada um dos municípios. Por meio dele, que os agentes públicos pensam nas políticas públicas que serão aplicadas em cada localidade. De acordo com a a Lei nº 5.534, de 14 de novembro de 1968, e com o Decreto nº 73.177, de 20 de novembro de 1973, é obrigatório responder ao questionário. A legislação determina a multa de até 10 vezes o maior salário-mínimo vigente no país, se o infrator for primário; e de até o dobro desse limite, quando reincidente, caso a pessoa se recuse a responder. 

O Censo deste ano deveria ter ocorrido em 2020, porém devido à pandemia está sendo feito com dois anos de atraso.  Os recenseadores vão visitar 89 milhões de endereços nos 5.570 municípios do país até o fim de outubro. Até o momento, 41 milhões de pessoas responderam ao questionário. 

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