ATO DE AMOR

Jovem com insuficiência renal ganha rim transplantado do pai

Marceneiro viaja 430 quilômetros para realizar transplante em favor da filha

Todos os anos, a segunda semana de agosto é marcada por encontros, reencontros, homenagens e presentes, quando os filhos tentam demonstrar todo o afeto aos pais. No entanto, na última sexta-feira (5/8), os papéis se inverteram. O marceneiro Wagmar Peres Borges, de 52 anos, viajou cerca de 430 quilômetros entre Presidente Olegário, na Região Noroeste de Minas, até Belo Horizonte, para doar o rim à sua filha Maylla Peres, de 25 anos.

Após quatro anos de ansiedade - a jovem ficou sabendo que tinha problemas na filtragem do sangue ao cair de bicicleta -, finalmente chegou o alívio para os Peres. Tudo transcorreu bem na cirurgia, realizada no Hospital Evangélico - referência em procedimentos do tipo. Já recuperado, Wagmar teve alta hospitalar na quarta-feira (10), a tempo de celebrar o Dia dos Pais em casa com a família. Maylla, no entanto, continua internada, na torcida para que a previsão dos médicos para sua alta seja confirmada. Ela está bem de saúde e deve receber autorização para voltar para casa exatamente na véspera do Dia dos Pais.

“Estou muito feliz, meu pai me deu a vida duas vezes”, comemorou. “É ter qualidade de vida, poder beber água, comer bem, não depender de uma máquina para viver, né? Fico muito feliz de ter ele na minha vida, um pai muito bom, que conta muito de nós. Agora eu tenho que cuidar dele, cuidou tanto de mim e eu tenho que cuidar melhor dele, amar mais ainda e aproveitar o tempo junto”, completou.

CASOS DE FAMÍLIA


Problemas renais crônicos acompanham a família materna de Maylla há tempos. A mãe, Elús Peres, de 42 anos, necessita de hemodiálise três vezes por semana. Alguns tios já fizeram o transplante de rim e a avó também sofria da mesma doença. A jovem, no entanto, nunca havia apresentado nenhum indício de que teria problemas de saúde desse tipo.

Um alerta foi ligado em 2018, quando Maylla sofreu um acidente de bicicleta e fraturou a mandíbula. De início, acreditavam que o problema nos rins seria devido à queda, mas nos exames pré-operatórios ela foi diagnosticada com glomerulopatia crônica, uma doença que atinge os pequenos vasos sanguíneos presentes nos rins (glomérulos).

Seis meses após o acidente, a jovem, que sonha em trabalhar com estética e cosmética, iniciou o tratamento de hemodiálise, assim como sua mãe já fazia. Três vezes por semana durante quatro horas, ela era submetida a um procedimento agressivo que comprometia não só sua saúde, mas também sua qualidade de vida. “O tratamento não é fácil, deixa a gente fraca. Não podemos comer todas as verduras, nem todas as frutas. Então a gente fica desidratada, anêmica. Trabalhar é muito difícil, porque você tem que sair três vezes por semana e não vai ter aquela mesma força para conseguir fazer o serviço igual as outras pessoas”, explicou.

Com a filha e a mulher doentes, Wagmar viu seu mundo virar do avesso. “Pensava que não daria conta dessa tarefa, mas Deus ajudou e eu firmei rápido. Era uma coisa que eu tinha que fazer, tive que agarrar com ‘unhas e dentes’ e dar conta do recado”, frisou.

A FÉ COMO COMPANHEIRA


O transplante era a esperança de que a vida de Maylla um dia pudesse retomar a normalidade. O caminho até conseguir realizar o procedimento, no entanto, seria tortuoso.

Ainda na fila do transplante, a jovem teve que sair por conta de um déficit de cálcio nos ossos causado pela insuficiência renal. “A gente fica bem frustrado e dá um trabalho para voltar para a fila de novo”, disse.

Urologista responsável pela cirurgia, David Neto explicou que o procedimento visa retirar a pessoa da hemodiálise e devolver uma boa qualidade de vida. No entanto, o transplante também atrasou devido à pandemia de COVID-19, que obrigou a suspensão das cirurgias eletivas, aquelas que não têm caráter de urgência.

Com a fila retomada, Maylla passou a ir em busca de um doador. O pai prontamente se disponibilizou. Haveria um leve risco, devido à idade de Wagmar, mas isso não foi impeditivo para o marceneiro. “Eu falei: ‘não doutor, risco a gente corre só de atravessar a rua’”, disse. Mesmo com a possibilidade de ir em busca de outro doador, o pai de Maylla se manteve disposto a contribuir.

Cirurgias desse tipo envolvem riscos como qualquer outro procedimento de grande porte, segundo explicou o médico Neto. Rejeição do órgão, complicações vasculares ou clínicas podem interromper o funcionamento do rim transplantado. Munidos de fé e muita oração, pai e filha confiaram que tudo fosse dar certo..

PRESENTE DO DIA DOS PAIS

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - Procedimento foi bem sucedida e Maylla deve receber alta na véspera do dia dos pais.

No fim, as cirurgias foram bem sucedidas e a ansiedade agora se manifesta na vontade de voltar para a casa e reiniciar a vida normal. “Já quero voltar a fazer exercícios físicos, poder comer de tudo. Eu estava muito fraca, agora vou poder correr atrás das minhas coisas, vou poder colocar a mão na massa, né?”, comemorou Maylla.

A jovem conta que ainda não deu tempo de comprar o presente para o pai, mas Wagmar responde que ele já ganhou o que queria. “Esse presente que eu recebi é grande demais! Ganhei ela de novo, né? Porque ela não teria uma vida, por muito tempo, se não tivesse feito esse transplante. Quero desejar o melhor Dia dos Pais para todo mundo”, finalizou o marceneiro.

*Estagiário sob supervisão do subeditor Rafael Rocha

 

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