Um dos pioneiros do formato talk show de entrevistas, Jô Soares sempre dedicou ao jornalismo um espaço de destaque em sua agenda recheada de projetos artísticos e culturais. Com humor e inteligência, o programa Jô Soares 11 e meia, que estreou no SBT em 1988, fez história e abriu novos caminhos para a análise da vida contemporânea. A poltrona em que recebia seus convidados era, antes de tudo, democrática. Quem era notícia, independentemente do viés político, inapelavelmente se rendia à sedução do entrevistador mais carismático da televisão brasileira. Ontem, o poder sucumbiu à tristeza.
"Jô Soares foi um dos atores, autores, comediantes e entrevistadores mais talentosos da história do nosso país. Uma pessoa generosa que por anos conduziu entrevistas que foram um importante espaço de debate para o país. Fui entrevistado por ele várias vezes, sempre com independência e disposição de ouvir o entrevistado", declarou o ex-presidente Lula, em suas redes sociais.
Até o presidente Jair Bolsonaro, que não costuma se manifestar quando o país perde alguém ligado à cultura ou ao pensamento crítico, relembrou o encontro com um de seus mais agudos críticos - foi chamado de "rei dos animais" pelo apresentador por suas posturas radicais de defesa da ditadura militar. "Jô sempre fez bom uso do seu direito de livre expressão. Por muitas vezes teceu duras críticas contra mim, inclusive. Mas foi por viver num país livre, não em um regime autoritário, que ele pode exercê-lo integralmente. Essa é a beleza da democracia. No fim das contas, as divergências pouca diferença fazem na hora de nossa partida para perto de Deus. O que fica são as nossas obras, e Jô Soares deixa para o Brasil um exemplo de postura, elegância e bom humor, e por isso, tem o meu respeito", disse o presidente.
A ex-presidente Dilma Rousseff lembrou o espírito democrático do entrevistador. "Escritor notável, humorista brilhante e um entrevistador sensível, Jô foi um artista e intelectual de grande dimensão." Ela ainda comentou que, quando estava sob intenso ataque da mídia, pouco antes do processo de impeachment, Jô fez questão de ouvi-la.
"Sua inteligência, sua cultura e, sobretudo, a capacidade de descobrir e criar o humor fizeram dele uma referência difícil de ser substituída no teatro e na televisão", declarou, por nota, o ex-presidente José Sarney, que criou laços de amizade com o apresentador.
No Supremo Tribunal Federal, o presidente da Corte, Luiz Fux, e o ministro Dias Toffoli também se manifestaram. "Em nome do Supremo Tribunal Federal, lamento a morte do humorista, ator, jornalista e intelectual, Jô Soares. Grande nome da televisão brasileira, deixará uma marca eterna na cultura do nosso país", declarou Fux, em nota.
"Jô deixa também o exemplo de um homem curioso, sempre disposto a aprender, generoso e apaixonado pela vida. Para seus fãs e amigos, ficam as lembranças de uma coleção interminável de risos e momentos inesquecíveis", postou Toffoli.
No Congresso, os chefes das duas Casas legislativas também lamentaram. Arthur Lira, da Câmara dos Deputados, disse que "o Brasil perdeu um artista multifacetado, de tanto talento reconhecido, que conquistou o público e marcou seu tempo". O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, no Twitter, também lamentou: "O Brasil perde Jô Soares, um dos maiores comunicadores de nossos tempos. Já foi apresentador, humorista, diretor, escritor de livros e dramaturgo. Sua trajetória é parte da cultura brasileira."