Ex-líder soviético Mikhail Gorbachev esteve em Brasília em 1992; relembre

Mikhail Gorbachev morreu nesta terça-feira (30/8), aos 91 anos, em Moscou, após uma doença grave e prolongada

Cecília Sóter

postado em 31/08/2022 12:52

Mikhail Gorbachev ao lado do então presidente da Câmara dos Deputados Ibsen Pinheiro - (crédito: Vanderlei Pozzembom)

O ex-presidente da antiga União Soviética, Mikhail Gorbachev, que morreu nesta terça-feira (30/8), aos 91 anos, em Moscou, após uma doença grave e prolongada, esteve em Brasília em 1992 e chegou a visitar Câmara dos Deputados, onde disse ter se sentido entre colegas.

Acompanhado da mulher Raísa, o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev veio ao Brasil em dezembro de 1992 em uma viagem que incluiu o Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

Na capital, Gorbachev e a esposa estiveram na Câmara dos Deputados e no Senado. As sessões foram interrompidas para receber e homenagear o casal.

Recebidos pelo então líder do governo, Roberto Freire, Mikhail e Raísa foram aplaudidos, posaram para fotos e seguiram para o gabinete do presidente da Câmara na época, o deputado Ibsen Pinheiro.

Já no plenário, o soviético recebeu uma homenagem especial e um discurso do presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado Pauderney Avelino. Segundo noticiado na época pelo Correio, as interrupções das sessões foram uma manobra protocolar encontrada para homenagear o visitante ilustre, sem ferir os regimentos internos ou causar problemas diplomáticos — o presidente da Rússia naquele período era Boris Yeltsin.

Nos discursos de Pauderney Avelino, na Câmara, e de Irapuan Costa Junior, no Senado, os líderes brasileiros destacaram a importância de Gorbachev para a paz mundial, o desarmamento e para a história moderna do mundo.

No mesmo dia mais cedo, Mikhail Gorbachev e Raísa estiveram em um almoço no Itamaraty com o chanceler Fernando Henrique Cardoso e mais trinta convidados. O ex-líder soviético iria se encontrar também com o presidente em exercício à época Itamar Franco — Fernando Collor acabara de sofrer impeachment —, mas o encontro foi cancelado devido à viagem do político mineiro a Juiz de Fora (MG) para o enterro da mãe, Itália Franco.

No encontro, Gorbachev alertou para os riscos que choques e reformas econômicas muito rápidas poderiam acarretar a países que assim agem, citando como exemplo a própria Rússia e a desintegração da ex-URSS. Em uma clara crítica ao presidente russo Boris Yeltsin, Mikhail assinalou que o esfacelamento da economia daquele país foi provocado pela pressa com que foram implementadas as reformas.

Gorbachev aproveitou a oportunidade para elogiar o Brasil pela saída democrática encontrada para contornar a crise política através do impeachment do presidente Fernando Collor e fez questão de manifestar a simpatia que sentiu pela população brasileira.

Na chegada ao Itamaraty, no entanto, foi recebido por manifestantes do MR-8 que agitavam faixas e cartazes e entoavam gritos contra a sua presença no país, chamando-o de traidor. "Um, dois, três, quatro, cinco, mil, socialismo na Rússia e no Brasil", diziam os manifestantes.

Quem foi Mikhail Gorbachev

Mikhail Sergeevitch Gorbachev foi um estadista e político russo nascido em 2 de março de 1931, na cidade russa de Stravropol. Ele comandou o Partido Comunista da União Soviética entre 1985 e 1991, sendo fundamental para a queda da cortina de ferro, divisão entre os territórios capitalista e socialista após o fim da Segunda Guerra Mundial.

No comando do Partido Comunista na URSS, destacou-se pela implantação de políticas que contribuíram para a flexibilização do regime, como a glasnost ("abertura"), que deu espaço para a liberdade de expressão e de imprensa, e a perestroika ("reestruturação"), um conjunto de medidas que descentralizou a economia e melhorou a eficiência.

O ex-líder soviético também presidia a Fundação Gorbachev, dedicada a programas de caridade e à educação. Ele renunciou do cargo de líder da URSS em 25 de dezembro de 1991.