Saúde

Especialistas alertam que controle da varíola dos macacos é cada vez mais difícil

Especialistas cobram do Ministério da Saúde ações mais vigorosas para combater a varíola dos macacos, que cresce rapidamente no país. Número de casos ultrapassa a marca de 4 mil, e doença avança para o interior

Tainá Andrade
postado em 26/08/2022 06:00
 (crédito: Brian Wj. Mahy/CDC)
(crédito: Brian Wj. Mahy/CDC)

O Brasil ultrapassou, ontem, a marca de 4 mil casos confirmados de varíola dos macacos (monkeypox), um acúmulo de 160 novos casos em apenas 24 horas, de acordo o Ministério da Saúde. Com o avanço da doença, a atuação do governo federal tem recebido cada vez mais críticas de especialistas em saúde pública pela timidez das medidas adotadas até agora, como a campanha de informações lançada nesta semana no rádio e na tevê.

Alexandre Naime, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), alega que, apesar dos anúncios recentes, o governo federal está atrasado nas ações de combate à infecção, e adota uma postura reativa. Para ele, as primeiras providências deveriam ter sido tomadas, pelo menos, dois meses atrás, juntamente com a edição de um decreto de situação de emergência na saúde.

"(A decretação de emergência) seria a solução mais adequada e, mesmo assim, muito atrasada. Mais uma vez, o ministério posterga decisões que deveriam ser adiantadas, por terem um impacto direto na disseminação e no controle da doença. A emergência faria com que o país tivesse mais facilidade de alocação de recursos para campanha de prevenção e esclarecimento, facilidade na compra de insumos para diagnósticos e mais facilidade para negociação das vacinas", exemplificou Naime.

"O que deve ser feito é fomentar a educação em saúde para a doença, aumentar a suspensão clínica, aumentar diagnóstico, isolar pacientes e bloquear a transmissão", apontou.

Epicentro

Na quarta-feira, a Secretaria de Saúde do governo de São Paulo — epicentro da doença, com mais de 2,5 mil casos — adotou medidas sanitárias para prevenção e controle da varíola dos macacos no estado. São orientações para identificação e isolamento dos infectados, e rastreamento de contatos em estabelecimentos de prestação de serviços, como restaurantes, supermercados, salões de beleza, academias, hotéis e motéis.

"Estamos trabalhando no detalhamento das diretrizes, mas a orientação é que pais ou responsáveis não encaminhem seus filhos à escola caso a criança apresente qualquer suspeita de sinal ou sintoma de varíola dos macacos, como lesões na pele associadas ou não a ínguas, febre, cansaço e dores de cabeça, musculares ou nas costas. Nesses casos, a recomendação é para que procurem imediatamente a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima para avaliação", alertou a médica da Vigilância Epidemiológica da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) Melissa Palmieri.

O governo paulista acompanha a evolução do avanço da monkeypox por meio de um comitê próprio de gestão de crise, sem participação do governo federal. Alexandre Naime sugere que, como essa não é a prática no restante do país, há subnotificação da doença e aumento do risco de descontrole em relação à cadeia de contaminação.

"Fica cada vez mais fácil a transmissão com a doença se interiorizando. Um terço dos casos já está no interior, e vai ficando cada vez mais difícil o controle porque, se já é difícil a contenção em cidades com maiores recursos, imagine em locais com mais dificuldades. O governo vem costurando lentamente soluções isoladas para dar uma resposta", alertou o infectologista.

O Ministério da Saúde informou que mantém diálogo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), vinculada à Organização Mundial da Saúde.

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