Com menos de um mês desde o início da coleta de dados, trabalhadores do Censo 2022 de diferentes estados contratados temporariamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estão planejando uma greve por causa de condições precárias de trabalho e atraso dos pagamentos. A convocação que circula em grupos de WhatsApp marca a paralisação para 1º de setembro.
Em um desses grupos, com mais de 250 colaboradores — ao qual o Correio teve acesso —, as queixas se acumulam. Entre as reclamações estão a obrigação de se deslocar em áreas perigosas ou de difícil acesso; ameaças e agressões físicas e verbais sofridas durante o serviço; falta de assistência da supervisão; desligamentos de recenseadores sem justificativa; e ausência de ajuda de custo.
Além das críticas às condições de trabalho, os temporários reivindicam maior transparência no cálculo da remuneração por produtividade, que está sendo afetado pelo alto índice de ausência no trabalho. "A gente só recebe se 95% dos questionários forem preenchidos, com apenas 5% de recusas e ausências. Estamos tendo muitos problemas, desde o treinamento até agora", contou um recenseador de Goiânia.
Para quem está nas ruas coletando dados sobre a população brasileira, uma publicidade mais intensa e parceria do IBGE com governos locais poderia diminuir a dificuldade de acesso às residências dos entrevistados. "Estamos trabalhando incansavelmente, buscando estabelecer o diálogo a fim de sermos ouvidos e termos as nossas reivindicações atendidas", informou, em nota, a União dos Recenseadores de Salvador, que está convocando os servidores para uma manifestação amanhã.
De acordo com os representantes, a classe está tentando diálogo, mas não recebe retorno nem mesmo em relação aos e-mails enviados para o IBGE. "Sabemos que o silêncio da administração pública significa que não tomará nenhum posicionamento, dessa forma, não podemos permitir que o nosso grito seja mais uma vez silenciado", completou.
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Compromisso
Em nota, o IBGE reconheceu os problemas e pediu desculpas pela demora na liberação do pagamento dos recenseadores. O instituto garantiu que está comprometido em reduzir esses prazos e que, em breve, serão divulgadas mudanças no processo de coleta de dados. "Em relação aos pagamentos solicitados, até dia 18, referentes à ajuda de locomoção e diárias, já foram regularizados. Sobre os pagamentos de ajuda de treinamento, há ainda algumas demandas residuais que estão sendo resolvidas caso a caso pelo IBGE em suas respectivas unidades estaduais", informou.
O instituto reforçou ainda o compromisso em honrar suas obrigações em remunerar aqueles que vêm trabalhando na operação censitária. "Todos sabemos que realizar um recenseamento em cerca de 75 milhões de domicílios distribuídos em 5.570 municípios não é tarefa fácil. O IBGE reafirma o respeito pelo papel fundamental dos recenseadores e dos outros servidores temporários que fazem os questionários do Censo chegarem a todos os domicílios deste país."
Desde o início da coleta dos dados mais de seis mil recenseadores já desistiram do trabalho e outros tantos planejam o desligamento, mas ainda temem os termos contratuais. "Todo mundo que entrou no cargo, que é temporário, não pode prestar outro concurso público por dois anos", lamentou um servidor da Bahia, que está pensando em abandonar o posto.
O Censo Demográfico é uma das principais ferramentas para elaboração de políticas públicas nas mais diversas áreas, como saúde, educação, assistência social, geração de emprego e renda no país. A expectativa é que a coleta de dados seja concluída até 31 de outubro, mas, nas atuais condições, especialistas não acreditam que o prazo possa ser cumprido. Por falta de recursos, o Censo está nas ruas com dois anos de atraso. A pandemia e a falta de recursos orçamentários adiou o início da pesquisa demográfica, que é a mais importante do país e deveria ser feita a cada dez anos.
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