A foto de Maria Rosa Lúcia, catadora de recicláveis, ganhou o concurso internacional EPOTY Environmental Photo. Com o tema sustentabilidade, o registro foi feito pelo fotógrafo Milton Lima durante um dia de trabalho no galpão da Associação Trespontana de Catadores de Materiais Recicláveis (Atremar), em Três Pontas, Região Sul de Minas Gerais.
Para a premiação, foram enviadas mais de 7 mil fotos de 120 países, mas somente 40 foram escolhidas pelo júri para serem expostas na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que ocorreu no ano passado, em Londres, no Reino Unido.
Dentre esses registros, o melhor seria selecionado por meio da votação popular e, com 4 mil votos, a fotografia da três-pontana Maria Rosa. O resultado foi divulgado na última quinta-feira (18/8). “Além de ser selecionada pelo júri técnico, considero que a minha foto passou por 4 mil jurados. Tinham fotos incríveis concorrendo e muitos fotógrafos renomados, mas eles escolheram a minha. É um prestígio e reconhecimento muito grande, pois o prêmio tem muita relevância”, contou Milton.
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Foto foi tirada de forma espontânea
Por nascer e ter vivido boa parte de sua vida em Três Pontas, o fotógrafo já conhecia o trabalho feito pela Atremar. Com 18 associados, eles recolhem entre 55 e 70 quilos de itens recicláveis mensalmente na cidade mineira. “Quando soube que o tema era sustentabilidade, imediatamente pensei na associação, já que nada me remete mais a esse tema do que a Atremar. Eles fazem um trabalho muito legal ao recolher recicláveis”, disse.
Ele afirma que fez diversas fotos dos catadores naquele dia, não somente de Maria Rosa, mas dos outros 17 associados. Porém, a fotografia vencedora ocorreu de forma espontânea, momentos antes dele ir embora. “Fiz mais de 100 fotos com o pessoal. Quando eu tava guardando o equipamento e minha câmera dentro da mochila, ela passou carregando aquele fardo. Isso me chamou muito atenção e, na mesma hora, eu corri para fazer a foto. Subi em um banco que estava próximo e registrei no momento que ela olhou pra mim. A sorte é que o equipamento já estava com a lente certa”, explicou.
"A partir do momento que ela voltou para o mundo real, depois do instante de fantasia que era tirar a foto, eu peguei a câmara e registrei. Foi um acaso, mas um acaso que era acontecer, era para estar ali" Milton Lima
Segundo o três-pontano, um dos seus principais objetivos era fotografar a realidade e a verdade, o que foi constatado na foto de Maria Rosa e foi um dos motivos de ser a vencedora do prêmio internacional. Apesar de já ter registrado algumas fotos da catadora de recicláveis, todas foram pousadas, ao contrário desta que, por já ter encerrado a sessão de fotos, todos estavam voltando ao trabalho no galpão.
“Ela voltou a trabalhar. O dia a dia deles é muito intenso. Eles pararam e tiveram toda a atenção para fotografar, mas 30 minutos que eles interrompem suas atividade, também deixam de ganhar. Então, naquele momento, a Maria estava correndo para carregar aquele fardo e garantir o dela. A força principal da foto é, sem dúvidas, o olhar dela. Conta uma história inteira da vida dela naquele registro. Ela é uma moça muito forte”, afirmou.
Consciência sustentável
Maria Rosa, 45 anos, nasceu na zona rural de Três Pontas. Ela conta que fez curso de culinária, mas começou a trabalhar na Atremar há 5 anos, por causa da falta de serviço e se apaixonou pelo trabalho. Antes disso, a três-pontana conta que só separava os itens reutilizáveis para as pessoas que passavam recolhendo os materiais na porta dela.
“Ter a foto premiada me deixou muito feliz, pois é uma forma de mostrar o serviço da reciclagem e ser reconhecido. Foi uma forma de representar todos os catadores e catadoras de reciclagens. Nosso trabalho é de grande importância para o meio ambiente e as futuras gerações. A produção de lixo está muito grande, o que pode causar e está causando muitos problemas ambientais”, disse Maria.
De acordo com dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, o país saiu de 66,7 milhões de toneladas, na década passada, para 79,1 milhões em 2019, um aumento de 12,4 milhões de toneladas. Além disso, cada brasileiro produz mais de 1 kg de lixo por dia, o que, em média, corresponde a 379,2 kg por ano.
A catadora de recicláveis afirma que um dos fatores primordiais é educar a população brasileira na separação do lixo. “Só na associação, 18 famílias são sustentadas por esse material. Na minha casa, por exemplo, tiramos só o lixo do banheiro. Com o lixo molhado, eu faço adubo para a hortinha do meu quintal. Se todos tivessem essa ideia e separasse o lixo, o nosso planeta estaria muito melhor”, explicou.
“Se a gente parar para pensar quanto tempo uma garrafa demora para se decompor e os associados pegam esse material e, além de reciclar, também tiram o ganha-pão, percebemos a relevância. Eles fazem a coleta dos itens reutilizáveis na cidade, tem um caminhão que auxilia no processo. Depois, levam tudo para o galpão para fazer uma triagem e separar o que é de fato recuperável, embalam e vendem o material. Acima de tudo, eles tornam a cidade sustentável”, garante Milton.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Eduardo
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