Viver nos Estados Unidos é o desejo de muitos brasileiros, mas, quando o sonho americano se realiza, não são poucos que ficam deslumbrados com as facilidades oferecidas pelo país. Os emigrantes acabam cometendo erros que, em muitos casos, não fariam no Brasil. Segundo especialistas, é preciso ser rigoroso na gestão das finanças na hora de emigrar.
Só na última década, 10,3 milhões de green cards — documento que concede o direito à residência permanente nos EUA — foram emitidos para imigrantes de todos os cantos do planeta, inclusive do Brasil. Segundo dados do Itamaraty, aproximadamente 1,9 milhão de brasileiros, entre legais e ilegais, moram no país norte-americano.
De acordo com Daniel Toledo, advogado do Associados e sócio do LeeToledo PLLC, a facilidade para adquirir bens que não eram acessíveis pode confundir a visão dos imigrantes. "O brasileiro chega aos Estados Unidos e começa uma vida totalmente diferente, esquecendo dos valores adquiridos e, até mesmo, das habilidades que o capacitam para recomeçar em um país totalmente diferente", relatou.
Para o advogado, ter acesso a tantas facilidades cria uma falsa ilusão de poder que, se não for ponderada, pode comprometer todo o planejamento feito ao longo de vários anos. "Uma pessoa sai do Brasil, onde ele tinha um carro popular, por exemplo, e chega aos Estados Unidos com a capacidade de comprar uma BMW com o dinheiro da venda daquele mesmo veículo", comparou. "Se ele não tiver os pés no chão e estrutura emocional, a probabilidade é que esse brasileiro faça uma aquisição desastrosa atrás da outra. Vemos isso acontecendo constantemente, com imigrantes em situações extremamente desgastantes", alertou.
Toledo acredita que esse tipo de comportamento compromete a imagem da comunidade brasileira. "Isso tem acontecido com uma frequência muito grande. Quem presencia uma conduta deste tipo, evita se relacionar com os demais conterrâneos que vivem no país", lamentou. De acordo com o especialista em direito internacional, é importante se adequar à cultura local para não cometer deslizes. "Não se adaptar às regras daquele país, da comunidade ou sociedade, tentando aplicar os piores costumes do Brasil em um país completamente diferente não traz benefício algum para os imigrantes", finalizou.
Vanessa de Oliveira Matos, 41 anos, está a 45 dias nos Estados Unidos, trabalha na lavanderia de um hotel e na limpeza de casas. "Quando comecei a trabalhar, não tive nenhum impulso, pois, na minha opinião, o melhor de tudo é a sensação do dólar na minha conta", disse ela. "Algumas coisas são muito baratas, foi algo que me surpreendeu muito. Por exemplo, consigo fazer as compras do mês e das coisas básicas do dia a dia sem pesar nos boletos."
Já Marta Fontele, 36 anos, é formada em secretariado executivo. Ela contou que foi para os Estados Unidos tentar construir uma vida nova. "No começo, não teve jeito, acabamos nos empolgando e gastando muito. Como a economia é mais aquecida do que a do Brasil, isso não nos deixou em dívidas, pois muita coisa que a gente comprou era em conta."
"Por exemplo, aqui nos Estados Unidos, todo mundo tem carro, pois aqui um carro bom custa, em média, US$ 5 mil. Se você trabalhar como garçom por um mês e meio, vai conseguir comprar", explicou. Marta contou também que, após 3 anos morando no país, já tem uma reserva maior do que a que tinha no Brasil antes de se mudar. "No início foi difícil, ficamos um ano trabalhando para outras pessoas. Mas agora já temos duas empresas, e estamos vivendo bem."
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Controle financeiro
Segundo o advogado e especialista em emigração para os Estados Unidos Marcelo Gondim, questões como tributação de impostos, saída fiscal do Brasil, compreensão do sistema americano de crédito, custo de vida médio e taxas a serem pagas ao governo (que variam de acordo com o estado em que a pessoa vai morar), além do preparo em relação aos gastos com sistema de saúde, moradia e educação nos EUA, são aspectos essenciais para uma emigração bem sucedida.
"O segredo é pesquisar com bastante antecedência a emigração, tanto em relação a uma boa reserva de recursos financeiros quanto à situação do mercado de trabalho local. "Precisa pesquisar o salário médio dentro de sua profissão, custos de moradia, alimentação, educação, gastos do dia a dia nos EUA, que muita gente não pensa na hora da decisão de imigrar", afirmou.
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