Morte

Livro desmitifica culpa e covardia diante do suicídio

Especialista em suicidologia alerta que o suicídio já é caso de saúde pública e governo deve investir em campanhas para 'sobreviventes' e comunidade em geral

Estado de Minas
postado em 18/08/2022 18:03
 (crédito: Ulrike Mai/Pixabay)
(crédito: Ulrike Mai/Pixabay)

A especialista em suicidologia, a psicóloga mineira Luciana Rocha, 48 anos, lança o livro “Nem covarde, Nem herói – Amor e recomeço diante de uma perda por suicídio”, hoje, dia 18, às 19h, no Centro Cultural Unimed BH Minas, aberto ao público. A obra é um relato corajoso e sensível sobre como lidou com o suicídio do marido, em meio a uma história de amor, sem se sentir culpada, mas determinada a buscar um para quê e não um porquê.

Luciana Rocha explica que a ausência de informações e conhecimento sobre o tema alimenta o preconceito e os mitos que envolvem o ato de tirar a própria vida. Ela espera ajudar as pessoas a entenderem que quem morre por suicídio não pode ser culpado, uma vez que está doente. “A situação é cercada por mitos e mentiras. Afinal, como perceber os sinais para ajudar nesses casos, se a grande maioria da população não entende nada sobre as questões relativas a esse processo, incluindo a própria pessoa que pensa em cometer o ato, mas não consegue pedir ajuda”, afirma.

Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam uma morte por suicídio a cada 40 segundos, ou seja, são cerca de 800 mil pessoas no mundo e 32 mil brasileiros a cada ano. O mais alarmante ainda é que os especialistas acreditam que a taxa é muito maior, em torno de um milhão, pois são muitas as pessoas que escondem as ocorrências e as centenas de óbitos que são registrados com outras causas.

“Já atendi a vários sobreviventes, ou seja, pessoas que perderam alguém por suicídio, estão enlutadas e esconderam a ocorrência. A única maneira de se falar sobre o suicídio e preveni-lo é abordar o tema de forma responsável. O suicídio já é um problema de saúde pública que impacta 140 pessoas, a cada morte, direta ou indiretamente, em média”, observa a psicóloga.

Estereótipo traçado pelo senso comum

Após perder o marido por suicídio, há sete anos, Luciana começou a estudar o assunto, pois ele não tinha o perfil de uma pessoa que tiraria a própria vida, baseando-se no estereótipo traçado pelo senso comum. “Não aprendemos sobre isso na faculdade e não conhecia muita coisa a cerca do tema. O pouco que sabia era errado. Nossa família era feliz e Marden era uma pessoa muito animada, carinhosa, prestativo e um pai sempre presente. A morte dele foi totalmente inesperada, não só para mim. Hoje, após 23 anos formada em psicologia, entendo que ele tinha transtorno bipolar de personalidade".

O impacto da situação a estimulou a estudar, buscar mais informações. Luciana Rocha alerta que não se sentiu culpada pelo ato do marido, embora seja comum que a maioria das pessoas envolvidas se sinta culpada ou “envergonhada”. “A morte já é um tema difícil nas conversas do cotidiano e, o suicídio, é ainda mais complexo. A verdade é que o assunto requer uma abordagem ao mesmo tempo sensível, acolhedora e profissional”, alerta.

O livro foi escrito a partir de uma história de amor. “Eu não poderia deixar que essa história fosse esquecida, pois é muito maior que a forma como ele morreu. A dor é real e persiste, mas a pergunta não deve ser porquê, e, sim, para quê? As 120 páginas existem por causa da morte dele. Sei que não posso mudar o passado, contudo, posso aprender muito com essa experiência. O aprendizado me permite ajudar outras pessoas, tanto aquelas com alguma ideação suicida, quanto as que perderam alguém por essa causa”, destaca a psicóloga.

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