Saúde pública

Covid-19: Estados racionam CoronaVac para crianças

Com a suspensão da vacinação contra covid-19 em menores de 3 a 5 anos em várias cidades do país, inclusive no DF, Ministério da Saúde anuncia a compra de 1 milhão de doses do imunizante do Instituto Butantan

Isadora Albernaz*
postado em 16/08/2022 06:00
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

O Ministério da Saúde vai comprar 1 milhão de doses de CoronaVac para imunizar crianças entre 3 e 5 anos, segundo informou o Instituto Butantan, de São Paulo. A aquisição da vacina, a única autorizada para o público infantil, ocorre após vários municípios do país suspenderem a vacinação por falta do produto. O Estado do Rio de Janeiro e o Distrito Federal estão entre as unidades da Federação que informaram não ter mais a CoronaVac em estoque na rede pública.

Segundo o Butantan, as novas remessas devem estar disponíveis em meados de setembro. Até o momento, o governo federal ainda não havia formalizado a aquisição das vacinas para atender o público infantil de 3 a 5 anos. Os estados e o DF são responsáveis pelo cronograma de aplicação de acordo com a disponibilidade de estoque.

A compra ocorre mais de um mês depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar, por unanimidade, o uso emergencial da CoronaVac para crianças dessa faixa etária. Desde a liberação do imunizante pelo órgão regulador, o Butantan — que produz a vacina no Brasil — enviou três ofícios ao Ministério da Saúde com propostas de venda da vacina. “Em todos os documentos constavam preço, condições de entrega e quantidade de doses, que seriam suficientes para atender o esquema vacinal primário completo desta faixa etária”, informou o laboratório, por meio de nota.

O Butantan também esclareceu que o insumo farmacêutico ativo (IFA) — matéria-prima da vacina, produzida na China — é capaz de suprir a demanda de 6 milhões de doses de CoronaVac necessárias para atender toda a faixa etária no Brasil. No país, há cerca de 5,6 milhões de crianças aptas a receber o imunizante.

Em 19 de julho, o secretário executivo do Ministério da Saúde, Daniel Pereira, havia afirmado que as doses reservadas para o público infantil chegariam aos estados e municípios em, no máximo, 30 dias.

Apesar dos relatos feitos por parte de alguns estados, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, negou a falta de imunizantes. Ontem, em entrevista à GloboNews, Queiroga declarou que “há vacinas”, mas reconheceu a falta do produto em algumas unidades da Federação. “Tem estados em que a vacina está faltando. Estamos fazendo a realocação dessas vacinas”, disse ele.

“Tratativas”

Questionado, o Ministério da Saúde informou, em nota, que “está em tratativas para aquisição do imunizante com maior celeridade, de acordo com a disponibilidade de entrega das doses pelos fornecedores”, e que a pasta “reitera a disponibilidade de outras vacinas contra a covid-19 para o público acima de 5 anos, e reforça a necessidade de estados e municípios cumprirem as orientações pactuadas para garantir a imunização da população brasileira”.

Em 3 de agosto, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal suspendeu a aplicação da primeira dose da CoronaVac em crianças de 3 a 5 anos. De acordo com a pasta, o interrompimento ocorreu porque o estoque de imunizantes do DF é suficiente apenas para garantir a segunda dose das crianças já vacinadas e que “aguarda envio de novas doses do imunizante por parte do Ministério da Saúde para retomar a vacinação dessa faixa etária”.

Até o dia 13 deste mês, o vacinômetro da capital federal indicava que 2.920 crianças de 3 a 5 anos foram vacinadas com a primeira dose, mas apenas 25 receberam a segunda dose do imunizante. Segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), há 39,3 mil crianças no DF com 3 anos de idade e 38,3 mil com 4 anos.

No Rio de Janeiro, com 450 mil crianças dessa faixa etária aptas a receberem o imunizante, a vacinação do público infantil está suspensa desde 8 de agosto. O Correio procurou as secretarias de Saúde de todos os estados, mas apenas 15 encaminharam respostas sobre os estoques de CoronaVac para crianças (Amazonas, Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Roraima, São Paulo, Santa Catarina, Tocantins). A maioria informou que está controlando a liberação das doses para evitar a descontinuidade do programa de vacinação.

Mato Grosso, por exemplo, confirmou a falta de imunizantes e informou que “a maioria dos municípios do estado não dispõe de doses da CoronaVac no momento”. A pasta de São Paulo respondeu que as doses de vacina estão sendo priorizadas para crianças com comorbidades, deficiências permanentes e indígenas. Mas quem não está nessa lista pode se habilitar a receber a vacina na chamada “xepa”, que são as doses remanescentes ao fim de cada dia de aplicação.

A SES da Bahia informou que o estado também enfrenta déficit no estoque. “(o estado) dispõe de aproximadamente 200 mil doses de vacinas, sendo insuficientes para atender integralmente esse novo público elegível (crianças de 3 a 5 anos)”, declarou o órgão baiano.

Alguns estados disseram que ainda há doses disponíveis. Paraná e Ceará informaram que solicitaram reposição de doses ao Ministério da Saúde, mas que ainda não há posição da pasta em relação ao envio do imunizante. A secretaria de Roraima já registra queda na procura da vacina. Segundo dados do Vacinômetro Covid-19/LocalizaSUS, que tem como fonte a Rede Nacional de Dados de Saúde (RNDS), até ontem, 288,5 mil crianças de 3 a 5 anos receberam a primeira dose da CoronaVac e apenas 3.842 mil a segunda dose.

*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Doria

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