A aldeia Wani Wani, na Terra Capoto-Jarina, no Mato Grosso, foi palco de workshop de audiovisual promovido durante 13 dias com oficinas que reuniram 20 jovens indígenas, de quatro diferentes povos da região, a maioria sem contato com esse modo de comunicação.
“Optamos pelo audiovisual, pela comunicação justamente pela invisibilidade, pela falta de informação, pelas fake news e estereótipos que os brancos têm com a gente”, explica o comunicador e ativista Matsi Waura, 28 anos, um dos participantes do evento.
O projeto culminou no lançamento, nesta terça-feira (9/8) — data em que é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas — de uma websérie com sete curtas, chamada Amirin Comunica, que resgata, por meio de entrevistas e cenas do cotidiano, a história e a cultura dos povos indígenas brasileiros.
Todas as narrativas são contadas em primeira pessoa pelos próprios produtores ao espectador. A vivência da oficina fez, ainda, nascer um coletivo de comunicadores indígenas, a Comunicativa. “Saímos com o objetivo de fazer um coletivo de comunicadores indígenas para ocupar espaços de artes, de comunicação”, conta Waura ao Correio.
Durante o projeto, o grupo aprendeu sobre técnicas do audiovisual e refletiu sobre a importância da comunicação como ferramenta para defender e fortalecer os direitos dos povos originários. E ajudou a vivência de cineastas indígenas Kamikia Kisedje e Arewana Juruna, que coordenaram o curso junto com o cineasta Simone Giovine.
“Esse coletivo já tem as consolidações dentro do universo indígena e no Sul do Pará. A proposta é que cresçam, avancem e formem novos jovens. É um movimento que não está fechado por si só, quanto mais jovens capacitados nas ferramentas tecnológicas, melhor tanto para garantir a cultura, a visibilidade, quanto para as questões que cercam o território”, afirma Vivian Fraga, coordenadora de projetos na CI-Brasil, financiadora dos projetos do Instituto Raoni, que faz a ponte com os povos indígenas.
“A estratégia do Raoni no Mato Grosso foi fortalecer esse coletivo, qualificar melhor o processo de comunicação que acontece dentro das comunidades que o instituto representa”, detalha.
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Instrumento de luta
O ativista Matsi Waura acredita que as mídias têm sido usadas, principalmente por pessoas que deveriam representar coletivamente os direitos dos povos indígenas e a diversidade, para disseminar desinformação. Por esse motivo, acha estratégico agregar as ferramentas de comunicação ao universo da aldeia.
“Hoje, o movimento indígena tem agregado muito a comunicação justamente pelas coisas que vem sofrendo, esses discursos de ódio nas mídias falando sobre nós, povos indígenas. Observando as atuações dessas pessoas que deveriam nos abraçar e lutar com a gente pelos direitos, tomando decisões coletivas, que deveriam nos representar. Muitos desses representantes não estão fazendo isso, estão retrocedendo. Temos abraçado muito a internet, essas ferramentas, para mostrar o Brasil nativo pós-contato, debater o que seria mais saudável coletivamente”, destaca Waura.
“Em um mundo em que nós, povos indígenas, enfrentamos a falta de informação sobre a nossa cultura, mesmo passando por todo o processo de miscigenação, ela ainda é de invisibilidade. A escolha pelo audiovisual é uma forma de tornar os indígenas protagonistas da própria história. Abraçar mais uma ferramenta do não indígena nos deu mais uma ferramenta de existência, não precisamos de outras pessoas contando por nós”, observa o comunicador.
Projeto Amazônia Verde
Vivian Fraga, coordenadora de projetos na CI-Brasil, ressalta ainda que as oficinas de audiovisual são uma das atividades às quais os povos podem optar dentro do projeto Amazônia Verde, que tem como um dos parceiros o Instituto Raoni. Todas as atividades são vinculadas ao fortalecimento institucional, entre elas está também a compra de equipamentos, formação de jovens pesquisadores.
“Dentro das comunidades indígenas, cada um escolhe no que quer aprofundar de atividade. A gestão de trabalho está pautada na autonomia das organizações indígenas e que seja do desejo das comunidades. Tem uma consulta às comunidades, elas dizem o que querem produzir, as instituições inscrevem o projeto e o IC-Brasil vai atrás do financiamento”, comenta Fraga.
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