Desde que a menina Bárbara Vitória, de 10 anos, desapareceu no domingo (31/7), após sair para comprar pão e o corpo da criança foi encontrado em um campo de futebol em Ribeirão das Neves, na Grande BH, a rotina dos moradores do Bairro Landi, na Região de Venda Nova se transformou. Os pais estão com medo de deixar seus filhos saírem sozinhos ou ficarem brincando nas ruas, como era costume antes do crime.
Igor Alves, vizinho e amigo da família de Bárbara, conta que a casa está fechada desde quarta-feira. Segundo ele, os pais e irmãos da menina devem ter ido para a casa da avó materna por alguns dias. O vizinho acredita que mesmo que a família não queira permanecer no imóvel depois do que aconteceu, dificilmente conseguirá se mudar, devido às condições financeiras. O pai, Rogério, trabalha como garçom e a mãe, Luciene, é dona de casa. Além do salário de Rogério, a família também recebe auxílio do governo, de acordo com Alves. O imóvel pertence à mãe de Luciene.
Segundo o vizinho, moradores do bairro ainda estão em choque diante do que aconteceu. Ele mesmo não conseguiu comparecer ao velório e sepultamento da menina depois de ver o corpo de Bárbara no campo de futebol. “Fecho os olhos e aquela imagem não sai da minha cabeça.”
Igor afirma que os moradores também passaram a ter medo de deixar as crianças saírem sozinhas ou brincarem na rua, hábitos frequentes antes da tragédia. Ele diz que todos conheciam o suspeito de ter matado Bárbara. “Ele andava para cima e para baixo, ria e cumprimentava, era amigo de todo mundo aqui. Ninguém nunca desconfiou dele.”
Ainda de acordo com Igor, após saber da morte do suspeito, a comunidade ficou mais aliviada, mas o sentimento é de que a justiça não será feita neste caso. “Ele não vai pagar pela covardia que fez com a menina.” Igor contou ainda que quando o homem foi apontado como o suspeito pelo desaparecimento da criança surgiu comentários de que ele já teria se envolvido em outro caso de abuso de menores. Entretanto, o vizinho disse não saber se a informação é verdadeira.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil para saber se o suspeito já tinha respondido por algum crime anterior, mas não obteve retorno.
ESCOLA ESVAZIADA
Zarabeth Faria Silva, diretora da Escola Municipal Armando Ziller, onde a menina estudava, conta que o índice de frequência na instituição de ensino ficou em torno de 30% na quarta-feira, quando aconteceu o velório e enterro do corpo da criança. “Hoje tivemos um índice também inferior ao que é normal, mas acredito que até segunda-feira isso já deve ser normalizado.”
Segundo a diretora, os pais estavam com medo de deixar as crianças irem para a escola sozinhas. “Mas acho que a comunidade já está começando a se acalmar depois do choque e de toda a situação que aconteceu. Também teve a questão de o suspeito ter cometido suicídio.”
Ela destaca que a comunidade escolar ainda está muito fragilizada. A professora de Bárbara está de licença por questões de saúde. “Ela está muito abalada, mas a turma dela passou por um trabalho feito com uma terapeuta.” A profissional fez uma dinâmica com os estudantes para trabalhar a dor da perda da menina. “Percebemos que as crianças já saíram de lá um pouco melhores ontem.”
Segundo a diretora, o trabalho deve continuar com a turma da qual a menina fazia parte ao longo do semestre. “É um acolhimento que temos que fazer com os demais funcionários e com todos nós, neste momento de ressignificação da dor da perda e do luto, até as coisas irem caminhando para a normalidade da rotina escolar.”
POLÍCIA LIBERA CORPO DO SUSPEITO
No início da noite de ontem, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou, em nota, que após ser submetido a exames no Instituto Médico-Legal (IML), o corpo do suspeito de matar a menina foi liberado aos familiares. A causa e circunstâncias da morte dele estão sendo investigadas.
O órgão ressalta ainda que o inquérito policial instaurado para apurar as circunstâncias, causa e autoria da morte da criança de 10 anos prossegue com as investigações. Segundo a PCMG, “já foram feitos exames periciais e médicos, ouvidas testemunhas, suspeito, além de diligências e análises de materiais colhidos que possam levar à elucidação completa do crime”.
A Polícia Civil diz que o investigado, de 50 anos, cedeu voluntariamente material genético para a coleta e que a investigação aponta o homem como suspeito do crime, mas nenhuma linha investigativa é descartada. O homem foi encontrado morto na tarde de quarta-feira, na casa de uma tia, no Bairro Cachoeirinha, na Região Noroeste de BH. Ele teria se enforcado.
Já a advogada contratada pela família de Bárbara, Aline Fernandes, disse que ainda não teve acesso aos documentos do inquérito policial. “Mesmo com a morte do principal suspeito, as investigações paralelas vão prosseguir, haja vista que temos várias linhas de investigação e várias respostas para serem solucionadas.”
Segundo ela, nos próximos dias muitas coisas virão à tona. Na quarta, durante o velório da menina, a advogada explicou que para tentar solucionar as dúvidas que envolvem a morte de Bárbara, faria uma investigação paralela. “Como a família ainda tem muitas dúvidas e muitas respostas não foram solucionadas pela polícia, neste momento se faz imprescindível a realização de uma investigação defensiva”, disse na ocasião. Aline também contou que os pais de Bárbara foram intimados a prestar depoimento.
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