O Brasil registrou, na última quinta-feira, a primeira morte pela varíola dos macacos. Trata-se de um homem — cujo nome não foi divulgado —, de 41 anos, morador de Uberlândia (MG) e que estava internado no Hospital Eduardo de Menezes. Além disso, era um paciente imunossuprimido em decorrência de um tratamento oncológico.
Por conta do primeiro óbito, o Ministério da Saúde anunciou, ontem, medidas para evitar que a infecção avance — de acordo com a pasta, foram registrados 1.066 casos. A principal delas é a compra de 50 mil doses da vacina Imvanex, aprovada pela agência europeia de medicamentos (EMA) na semana passada, e que apresenta eficiência no combate ao vírus.
Segundo Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde do ministério, a compra dos imunizantes será por meio de um consórcio de países liderado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O Brasil deve receber dois carregamentos e as primeiras doses chegam em setembro. A vacinação, porém, estará restrita aos profissionais de saúde que tenham contato direto com os infectados.
O ministério anunciou, ainda, a criação de Centro de Operação de Emergências (COE), que deve tratar de forma mais ágil a resposta ao surto de infecções. Seguirá modelo semelhante ao adotado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que criou a Comissão Técnica de Emergência Monkeypox — nome britânico para a vacina dos macacos — para coordenar a análise de pesquisas clínicas, autorizar a importação de insumos e liberar medicamentos e vacinas para a rede pública.
Preconceito
Medeiros observou que, estatisticamente, há um predomínio de casos entre homoafetivos masculinos, mas ressaltou que esse é apenas um dado epidemiológico. Essa questão foi trazida por Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), que em recente entrevista sugeriu a redução no número de parceiros sexuais para minimizar o contágio e a transmissão.
No entanto, tal observação acendeu o alerta em especialistas de saúde e representantes dos grupos LGBTQIA sobre o risco de, mais uma vez, serem estigmatizados. Para a infectologista Joana D'Arc Gonçalves, do Centro Especializado em Doenças Infectocontagiosas (Cedin), a observação do diretor-geral da OMS abriu um perigoso precente.
"O que existe é um comportamento de risco. No caso aqui, é o contato íntimo, que não está relacionado a uma opção sexual ou a determinado grupo. Essa forma de transmissão pode ser feita por todos, não apenas homens que fazem sexo com homens. Além disso, essa via sexual é apenas uma das formas de transmissão, não é exclusiva", alerta.