Rio de Janeiro

Complexo do Alemão: o que se sabe de operação policial que deixou mortos

400 policiais participaram de operação no Alemão



Ao menos 20 pessoas morreram durante uma operação policial no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na quinta-feira (21/7), de acordo com a Defensoria Pública do Rio de Janeiro.

A Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) confirmou até agora, no entanto, cinco mortos: uma mulher que estava em um carro, um policial militar e outros três homens que teriam sido atingidos em confronto durante a operação.

À BBC News Brasil, Guilherme Pimentel, ouvidor da Defensoria Pública, e a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ), que acompanham o caso, informaram que se baseiam em dados obtidos com as unidades de saúde da região para apontar uma quantidade de vítimas maior do que a informada pela polícia até o momento.

"Há relatos de muita violência", diz a procuradora da comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Mariana Rodrigues. "De pessoas presas em casa, pessoas feridas que não conseguem atendimento médico, crianças com tiros de raspão que o disparo atravessou a parede das casas. A gente tem muitos relatos aqui, mas a gente não consegue entrar na comunidade por conta da instabilidade do território."

De acordo com as autoridades policiais do Estado, a operação tem como objetivo de combater o roubo de veículos, de carga e de bancos na cidade. Em nota, a PMERJ afirma que cerca de 400 policiais participam da ação, que conta com quatro aeronaves e dez veículos blindados.

"As informações dos setores de inteligência apontam a presença de criminosos da região do Complexo do Alemão praticando roubos de veículos principalmente nas áreas dos bairros do Grande Méier, Irajá e Pavuna", diz a PMERJ.

"Esse grupo criminoso vem empreendendo roubos a bancos como aqueles que ocorreram no município de Quatis, em Niterói, e na Baixada Fluminense, e roubos de carga, além de planejar tentativas de invasão a outras comunidades. Entre os roubos de carga realizados pelos criminosos, constam roubos de óleo diesel para derramar em ladeiras quando estivessem ocorrendo operações visando dificultar o avanço de guarnições policiais."

Segundo a Polícia Militar, criminosos atacaram bases das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) durante a operação, além de terem derramado óleo em via pública e ateado fogo em objetos como forma de protesto.

Os mortos durante a operação

Reuters
OAB e Defesoria afirmam que ao menos 20 pessoas morreram

A PMERJ confirmou a morte de um cabo identificado como Bruno de Paula Costa, que ficou ferido quando a base da UPP Nova Brasília foi atacada durante a operação, segundo a polícia. Costa chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.

Uma mulher de 50 anos, Letícia Marinho, também morreu ao ser ferida por um disparo de arma de fogo, segundo a PMERJ.

De acordo com o portal G1, parentes dela informaram era moradora do Recreio, foi baleada dentro do carro e chegou morta à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Alemão.

As autoridades policiais informaram que o caso é investigado pela Polícia Civil e que a Polícia Militar "acompanha e colabora integralmente com todos os procedimentos".

Segundo a PM, equipes policiais foram atacadas por disparos de arma em diferentes pontos do Alemão. Durante a troca de tiros, três homens, que não tiveram suas identidades divulgadas até o momento, morreram.

Uma metralhadora que, segundo a polícia, seria capaz de derrubar helicópteros, foi apreendida durante a ação, além de quatro fuzis e duas pistolas.

Os relatos de moradores

EPA
PM confirmou cinco mortos até agora

De acordo com relatos de moradores colhidos pelo jornal Voz das Comunidades, que é baseado no Alemão, foi possível ouvir tiroteio intenso desde as 5h da manhã. Vias localizadas no entorno do complexo foram interditadas.

Segundo o jornal, moradores relataram abusos cometidos durante a operação. Eles contaram que policiais forçaram portas para invadir casas e residências, que teriam sido reviradas.

"Eles entraram lá em casa e levaram meus pertences, mexeram na geladeira e bateram na cara do meu sogro e a minha sogra foi xingada por eles. E eu tenho criança pequena em casa, que assistiu tudo", disse um morador ao Voz das Comunidades.

Questionada pela BBC News Brasil sobre as alegações dos moradores, a PM não comentou o assunto e informou apenas que a Corregedoria Geral da Corporação disponibiliza canais para o recebimento de denúncias. "O anonimato do denunciante é garantido. O contato pode ser feito por telefone pelo número (21) 2725-9098 ou ainda pelo e-mail denuncia@cintpm.rj.gov.br."

- Texto originalmente publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/brasil-62259940


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