O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio, o cirurgião ortopédico Clóvis Bersot Munhoz, foi indiciado por assédio sexual contra uma técnica de enfermagem. O episódio teria acontecido no hospital privado Gloria D'Or, na Glória, zona sul do Rio, em agosto do ano passado. O Cremerj disse estar ciente das acusações contra Munhoz, que se afastou do cargo.
De acordo com o jornal O Globo, que teve acesso ao inquérito, a técnica afirmou que, durante uma cirurgia, o ortopedista disse que ela era "muito quente", "que deveria ficar perto dele", "que deveria trair o marido, pois casara muito cedo", "que se quisesse trair o marido, ele estaria disponível". Além disso, ele teria comentado com a auxiliar que "se eu beijar o seu pescoço, você vai gozar rápido".
A mulher também contou à polícia que chegou a ser escalada para uma nova cirurgia com Munhoz, mas acabou pedindo demissão do hospital. "Além do depoimento da técnica, temos o testemunho de uma enfermeira do hospital que estava no centro cirúrgico, ouviu os comentários do médico e, posteriormente, o desabafo da colega. Essa testemunha confirmou a conduta do médico", salientou o delegado Rafael Barcia, da 9ª Delegacia de Polícia, no Catete, zona sul, responsável pela investigação.
O inquérito já havia sido enviado ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), mas retornou à delegacia com requisições. Segundo o delegado, Munhoz foi intimado por carta e não compareceu. A pena para o crime de assédio sexual é de um a dois anos de prisão.
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Apuração
Em nota, o Cremerj informou que "tomou ciência pelo estabelecimento de saúde Hospitais Integrados da Gávea (Glória D'Or) de que havia um procedimento na 9ª Delegacia de Polícia, no Catete", em desfavor de Munhoz, "assim como de informações do processo trabalhista em que ele era mencionado". A entidade afirma que depois da decisão colegiada do afastamento, informou que "o procedimento de apuração será encaminhado ao Conselho Federal de Medicina (CFM), que designará o caso para outra Regional, para garantir total isenção e imparcialidade". "O Conselho reafirma seu repúdio por qualquer tipo de assédio e trabalha junto das autoridades para coibir essa prática antiética e criminosa."
Munhoz foi durante muitos anos responsável pelo Departamento Médico do Clube de Regatas Vasco da Gama. Alé disso, seria o mesmo Cremerj que investigará a conduta do anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso em flagrante, há poucos dias, por estupro de vulnerável — ele abusou de uma parturiente em plena mesa de cirurgia, no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
O diretor de Comunicação do Cremerj, Sílvio Provenzano, porém saiu em defesa de Munhoz. "Comecei a dar plantão com o Clóvis em 1978, no Hospital Miguel Couto. São 44 anos de convívio. Estou achando isso muito absurdo. É um sujeito absolutamente sério. Conheço o ambiente familiar dele", afirmou. Munhoz foi procurado, mas não se pronunciou.