A falta de medicamentos essenciais tem preocupado pacientes, funcionários e redes de hospitais particulares. Pesquisa da Confederação Nacional de Saúde (CNS), que abrangeu 112 hospitais particulares no Brasil, mostrou que 87,6% das instituições denunciaram falta de soro e 40% disseram enfrentar preços 100% acima do usual.
Maely Retto, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (SBRAFH), disse que desde o início da pandemia a organização tem acompanhado as dificuldades de acesso a medicamentos gerada pelo desabastecimento, o que é considerado um grave problema de saúde pública.
“Estamos enfrentando sérias dificuldades de acesso, especialmente envolvendo medicamentos imprescindíveis ao cuidado por causas diversas, inclusive publicizadas pelo próprio Ministério da Saúde, como a escassez de matéria-prima, guerra na Ucrânia, lockdown na China, regulação de preços pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), entre outros”, afirmou Maely Retto.
O Ministério da Saúde informou em nota que os problemas de abastecimento ocorrem em decorrência de diversas causas globais que extrapolam as competências da instituição. O Ministério, através da Resolução nº 7, de 1 de junho de 2022 da CMED, liberou critérios de ajuste de preços para medicamentos com risco de desabastecimento no mercado. Outra medida adotada pela pasta foi a inserção de itens básicos de saúde como Dipirona e bolsas para soro fisiológico na lista de produtos com redução do imposto de importação sobre insumos.
O presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Walter da Silva, explicou que a ausência dos fármacos compromete o desfecho do tratamento dos pacientes, ao aumentar a chance de ocorrência de complicações e de mortalidade nos estabelecimentos de saúde.
“A falta de dipirona injetável no ambiente hospitalar, por exemplo, implica o uso de opióides, mais potentes, mais caros e com maior risco de efeitos adversos e complicações para o paciente, como a dependência”, disse o presidente do CFF.
João Gabriel Freitas* Mariana Albuquerque* Rafaela Gonçalves
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Rede pública
A situação dos hospitais públicos não é muito diferente. Uma pesquisa divulgada pelo Confederação Nacional dos Municípios (CNM) relatou que mais de 80% dos 2.469 municípios entrevistados precisam de medicamentos para atendimento da população na rede pública.
Esta realidade está presente no Distrito Federal. Na UBS 1 da Asa Sul, 39 medicamentos estavam em falta para quem necessitava. Enquanto isso, uma farmácia de alto custo na mesma região administrativa estava em carência de 52 medicamentos no dia 18 de julho, data da apuração do Correio nos locais.
Para Vítor Oliveira, 25, que trabalha como fotógrafo no Distrito Federal, a situação ficou insustentável. Oliveira é diabético e conseguia medicamentos pela farmácia de alto custo. “Usei os tratamentos dos 8 aos 16 anos. Não tinha regularidade e era muito demorado. Acabamos abandonando esse recurso, porque o que chegava não era suficiente. Sempre faltavam. Não dava pra confiar. Hoje pago do meu bolso”, conta Vitor.
Walter da Silva ainda citou que a escassez pode ocorrer, principalmente, pela priorização das fábricas em fabricar medicamentos contra a covid-19, e a falta de matéria prima em decorrência do lockdown na China.
O conselho que representa os farmacêuticos destacou a necessidade brasileira de que medicamentos básicos consigam ser produzidos em solo nacional, já que quase 95% dos medicamentos comercializados hoje dependem de matéria prima principalmente chinesa.
*Estagiários sob supervisão de Pedro Grigori