Depois de uma rápida trégua, as chuvas intensas que atingem o Nordeste do Brasil voltam a causar preocupação. Apenas em Pernambuco, 132 pessoas morreram em decorrência dos temporais desde 25 de maio de 2022, segundo a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.
Já em Alagoas, apenas entre junho e julho foram registradas 8 mortes, além do pico de desabrigados no início deste mês — o estado divulgou no dia 5 de julho que haviam cerca de 60 mil desabrigados, de acordo com a Defesa Civil do Estado.
A situação no Rio Grande do Norte também é preocupante. No começo de julho, choveu em cinco dias o previsto para todo mês na capital, Natal, com 261mm. A prefeitura chegou a decretar estado de calamidade pública. Segundo a Secretaria Municipal de Obras e Serviços (SEMOB), na época foram montados três abrigos para acolher pessoas desalojadas.
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Volta à normalidade
O Nordeste sofre com os temporais há três meses, mas finalmente há expectativa de melhora. Instituições federais e estaduais se articulam para continuar a assistência à população no fim da estação de chuvas intensas e evitar mais perdas. Algumas unidades aderiram à assistência financeira mediante o auxílio-chuva e auxílio básico com roupas, lençóis, travesseiros e alimentação.
A Agência Pernambucana de Águas e Climas (APAC) estima que as chuvas cessem na segunda quinzena de agosto, data que marcaria o fim do inverno. O Major Allan Barbosa, da Defesa Civil Estadual de Alagoas, explicou que, com o fim das altas precipitações, os municípios estão em fase de volta à normalidade.
“Ainda há 56 municípios em situação de emergência. Mais de 30 já solicitaram verba pela Defesa Civil para assistencialismo e recuperação da infraestrutura. As prefeituras estão na fase de aplicar esse dinheiro de acordo com o plano de contingência e aos poucos voltar ao cenário de tranquilidade normal”, afirmou Allan Barbosa.
Problema infraestrutural
O secretário-executivo da Defesa Civil de Pernambuco, tenente-coronel Leonardo Rodrigues, disse que há um problema de infraestrutura, principalmente em regiões metropolitanas. Do total de mortos no estado pernambucano, 64 foram em ocorrências em Jaboatão dos Guararapes, entorno de Recife, e outros 50 na capital.
Leonardo disse que historicamente o poder público não controlou a ocupação nas áreas de rios e nas áreas de encostas. “Quando tem uma precipitação mais rigorosa, fenômenos mais intensos, é uma devastação, sobretudo em zonas urbanas mais pobres, com mais gente. É pior onde não há recurso para melhorar a qualidade das construções e das vias”, acrescentou.
Fenômenos climáticos
Especialistas apontam que há certa normalidade nas altas precipitações. O monitoramento pluviométrico da região mostra que a maior precipitação ocorre justamente de abril a agosto - período chamado de quadra chuvosa. No entanto, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), em análise preliminar, a chuva deste ano foi bem acima da média nos últimos 5 anos.
Alguns fenômenos acentuam o cenário, como o La Nina, que consiste no resfriamento das águas do oceano pacífico, o que altera o destino de umidade vinda da Amazônia para o Nordeste. Para Morgana Almeida, meteorologista do INMET, deve-se considerar ainda as anomalias no oceano atlântico.
“Além do resfriamento das águas do Pacífico, outro fator tem potencializado as chuvas: a anomalia positiva no oceano Atlântico. O aquecimento das águas na costa nordestina potencializa a força atmosférica dos ventos do leste. Essa junção de fatores aumenta a intensidade das precipitações.”
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