A viúva de Bruno Araújo, Beatriz Matos, cobrou, ontem, retratação do presidente Jair Bolsonaro (PL), do vice Hamilton Mourão (Republicanos) e do presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, pelas acusações que fizeram ao indigenista e a Dom Phillips, assassinados no Vale do Javari (AM), no mês passado. A indignação dela é com as suspeitas que os três lançaram contra Bruno e o jornalista inglês, assim que ficou constatado o desaparecimento e o possível duplo homicídio.
A cobrança de Beatriz foi durante o depoimento que prestou à Comissão Temporária Externa (CTE Norte), no Senado. Ela lembrou que nem Bolsonaro, Mourão ou Xavier se solidarizaram com as famílias de Bruno e Dom, ou mandaram condolências pela descoberta que tinham sido assassinados. Uma postura diferente da assumida pelo governo britânico.
"Gostaria de uma retratação. Gostaria que o presidente do Brasil, o vice e o presidente da Funai se retratassem em relação as declarações indignas e absurdas que eles fizeram ao trabalho do Bruno, do Dom, da Univaja (a União dos Povos Isolados do Vale do Javari, com a qual o indigenista colaborava). Até processo administrativo o presidente da Funai falou em abrir, em relação à ilegalidade da presença deles ali. O presidente da República falou coisas que me recuso a repetir aqui", indignou-se.
Para Beatriz, a comissão do Senado deve ampliar as investigações para concluir a razão da demora do governo federal em acionar o dispositivo oficial para começar as buscas a Bruno e Dom. O desaparecimento dos dois foi comunicado pelos membros da Univaja às autoridades em 5 de junho, mas o início do trabalho de resgate só começou 24 horas depois — e sem o efetivo e o equipamento necessário para a ação naquela região. Beatriz lembrou que o reforço de efetivo e de equipamentos para operação se deu apenas por causa da pressão da sociedade.
Ela fez críticas, ainda, à postura que classificou como "negligente" do presidente da Funai, uma vez que um servidor da autarquia que comanda estava desaparecido. "Bruno era dedicadíssimo, hiper comprometido com o trabalho. O presidente da Funai o acusa de estar fazendo alguma coisa em vez de tomar para si a investigação, a proteção, o cuidado com a família, com os filhos. É indignante a falta de apoio que a gente teve da esfera federal desse país", criticou.