A delegada Bárbara Lomba, que comanda as investigações dos estupros cometidos pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra, disse ontem que a sedação que ele aplicava nas parturientes era "excessiva e desnecessária". O médico foi flagrado, no último domingo, em pleno ato de violência sexual contra uma mulher no momento em que era submetida a uma cesariana. Há a suspeita de que ele tenha cometido a mesma violência contra outras cinco grávidas.
De acordo com a delegada, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, município da Baixada Fluminense, "muito provavelmente" Quintella aplicava sedação em excesso nas pacientes para poder abusar delas. "A sedação pareceu desnecessária, ao final do procedimento. A vítima não estava nervosa nem agitada. Tudo indica que era feita para a prática do estupro", afirmou.
Bárbara investiga se as sedações desnecessárias, ou em doses excessivas que possam ter causado prejuízo às vítimas, foi praticada outras vezes. Caso isso fique constatado, Quintella será responsabilizado por outros crimes. "Aí vamos avaliar qual seria o tipo penal", disse a delegada.
De acordo com depoimentos à polícia de técnicos e enfermeiros que acompanhavam o trabalho do anestesista, Quintella utilizava três estratégias para cometer os abusos sexuais: dopava pesadamente as pacientes durante o parto; exigia que os maridos das parturientes se retirassem da sala antes que a cirurgia fosse finalizada — o que contraria a lei; e levantava uma espécie de tenda para dificultar que o restante da equipe da cirurgia enxergassem a cabeça da mulher que estava tendo o bebê.
A delegada voltou a afirmar que, pelo método utilizado por Quintella para abusar das mulheres na mesa de cirurgia, ele pode ser classificado como um criminoso em série. "Pela repetição das ações criminosas podemos dizer, por que não?, que ele é um criminoso em série", afirmou.
Segundo Bárbara, a investigação do estupro que foi filmado está praticamente concluída. Ela disse que falta ouvir a vítima e saber qual é o resultado da perícia do material que foi apreendido e enviado, ontem, para perícia — dentre os quais a gaze que Quintella teria utilizado para limpar o próprio pênis, depois de cometer o estupro no último domingo, além dos frascos do anestésico usado para sedação.
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Hostilidade
Desde as 21h da última terça-feira, Quintella está preso na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu 8), no Complexo de Gericinó, para onde são levados os custodiados que têm nível superior. Por medida de segurança, o anestesista está isolado em uma cela da galeria F da unidade. Isso porque, ao chegar, ele foi hostilizado pelos outros presos, que reagiram xingando-o e batendo na grade das celas.
Também na última terça-feira, em audiência de custódia, a juíza Rachel Assad converteu a prisão em flagrante do anestesista em preventiva — ou seja, por tempo indeterminado. Na decisão, a magistrada alertou para a monstruosidade do ato praticado pelo médico.
"A gravidade da conduta é extremamente acentuada. Tamanha era a ousadia e intenção do custodiado de satisfazer a lascívia, que praticava a conduta dentro de hospital, com a presença de toda a equipe médica, em meio a um procedimento cirúrgico. Portanto, sequer a presença de outros profissionais foi capaz de demover o preso da repugnante ação, que contou com a absoluta vulnerabilidade da vítima, condição sobre a qual o autor mantinha sob o seu exclusivo controle, já que ministrava sedativos em doses que assegurassem a absoluta incapacidade de resistir", afirmou.