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Fiocruz encontra alto nível de exposição a metais pesados em Brumadinho

37% dos adultos apresentaram níveis elevados de manganês no sangue, e 33,7% tinham altas taxas de arsênio na urina

Levantamento feito pela Fiocruz de Minas Gerais, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revela que a população de Brumadinho (MG) apresenta alto nível de exposição a metais pesados. A pesquisa também constatou incidência acima do normal de problemas respiratórios e casos de depressão na cidade que ficou marcada pelo rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração da Vale. O estudo avalia as condições de vida, saúde e trabalho da população local, após o desastre que causou a morte de 270 pessoas, em janeiro de 2019.

Em relação aos metais pesados, 37% dos adultos apresentaram níveis elevados de manganês no sangue, e 33,7% tinham altas taxas de arsênio na urina. Entre adolescentes, foram constatados índices que extrapolam os limites estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde: 52,3% tinham mais manganês no sangue, 28% apresentaram níveis de arsênio na urina acima do tolerável e, em 12%, foi encontrado chumbo no sangue em quantidade acima do aceitável.

Crianças de 0 a 6 anos também sofreram com a exposição a metais pesados. Metade das crianças que participaram da pesquisa apresentaram, pelo menos, um tipo metal pesado — cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês — em níveis acima do recomendado.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma série de problemas de saúde podem ser decorrentes da presença de metais pesados no organismo, que afetam sistema nervoso, rins, fígado e sistema endócrino. A pesquisa monitorou 3.297 pessoas.

O levantamento também avaliou as condições gerais de saúde da população a partir de diagnósticos anteriores e da própria percepção dos moradores: 22,5% apresentaram depressão, e cerca de um terço dos adultos entrevistados relatou ansiedade ou dificuldade com o sono. Entre jovens, 20% afirmaram sofrer de ansiedade e 10,4% acusaram depressão. Sobre diagnósticos de doenças crônicas, 12,3% relataram casos de asma ou bronquite.

O coordenador-geral da pesquisa, Sérgio Peixoto, ressalva que não dá para fazer uma relação direta entre os níveis de contaminação da população com o rompimento da barragem. "A única coisa que podemos dizer é que a exposição dos moradores a esses metais é alta."

Posicionamento da Vale

"A Vale não teve acesso ao estudo que está sendo realizado pela Fiocruz Minas e irá analisar os resultados tão logo o tenha. A empresa reforça que não há registros nas comunidades locais de casos de intoxicação por metais pesados em decorrência do rompimento da barragem B1, em 2019."

"A empresa também monitora níveis de material particulado em suspensão (frações inaláveis menores que 10µm e frações respiráveis menores que 2,5µm) nas comunidades impactadas de Brumadinho e, até o momento, os resultados desses monitoramentos estão a níveis de segurança adequados à saúde da população."

"Além disso, a Vale financia os Estudos de Avaliação de Risco à Saúde Humana e de Avaliação de Risco Ecológico, que estão sendo conduzidos pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SISEMA) em articulação com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e Secretaria de Planejamento (SEPLAG). Esses estudos investigam as áreas impactadas pelo rejeito para identificar uma possível contaminação e os riscos à saúde humana e ao meio ambiente, visando o estabelecimento de medidas de intervenção e reparação e ações de proteção da população, fauna e flora, se necessário."

"Este trabalho, que tem metodologia validada pelos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente e é acompanhado pelos compromitentes do Acordo Judicial de Reparação Integral (Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Ministério Público Federal, Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais e pelo Governo do Estado de Minas Gerais), está sendo elaborado em cinco fases. No presente momento, está em andamento a Fase I, que diz respeito ao levantamento de dados das áreas para a definição dos modelos conceituais e do Plano de Caracterização e Investigação Ambiental para as metodologias do setor saúde e do setor ambiental. Mais informações podem ser obtidas no site: http://www.meioambiente.mg.gov.br."

"É igualmente importante destacar que o rejeito de minério de ferro é formado em sua maioria por minerais ferrosos e quartzo, sendo classificado como não tóxico e consequentemente não perigoso, conforme NBR 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas."

*Estagiário sob a supervisão de Vinicius Doria

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