Pouco mais de um mês após a exumação do corpo da estudante Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, a perícia feita pelo Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro confirmou a suspeita de que a menina foi vítima de envenenamento, o que a levou a óbito em 27 de março, após 13 dias internada. A principal suspeita do crime é Cíntia Mariano Dias Cabral, madrasta de Fernanda, que está presa desde 21 de maio.
O processo de análise da fauna cadavérica — insetos que se instalam em cadáveres — de Fernanda foi iniciado na primeira semana de junho, pouco tempo depois da prisão de Cíntia, decretada após a mulher ser denunciada pela mãe de Fernanda por tentativa de envenenamento do irmão da vítima, também enteado da suspeita, em 15 de maio. As informações são do G1.
A perícia feita no caso de Fernanda foi separada em duas análises: a toxicológica, com a análise da fauna cadavérica, e outra a partir do cruzamento de dados obtidos no hospital que atendeu Fernanda. O prontuário da vítima, atendida no hospital Albert Schweitzer, afirmava que ela tinha passado por intoxicação exógena, produzida por algum inibidor da enzima acetilcolinesterase.
Essa inibição é causada por carbamatos, conhecido como chumbinho e pesticidas. Quem ingerir as substâncias apresentará alteração cognitiva, fraqueza muscular e atividade secretória excessiva. Tanto Fernanda quanto o irmão mais novo dela apresentaram esses sintomas ao procurarem atendimento médico.
"Feijão amargo e com pedrinhas azuis": irmão de Fernanda percebeu diferença em alimento
Pouco menos de um mês após a morte da filha, Jane Carvalho Cabral viu o filho mais novo voltar para casa e apresentar desconfortos como Fernanda. Ele contou para a mãe que estava preocupado porque comeu um “feijão amargo e com pedrinhas azuis” na casa de Cíntia. Ele reclamou para a suspeita sobre o gosto do alimento e, de acordo com Jane, ela “arrancou o prato da mão dele, colocando mais feijão e entregando para ele depois”.
Em casa, o menino queria vomitar e após 40 minutos a situação se agravou. Quando chegou ao mesmo hospital que a irmã passou os últimos dias de vida, o Albert Schweitzer, o garoto já estava com “a língua enrolada, babando e com a pele branca”, informou a 33ª Delegacia de Polícia em Realengo.
O menino passou por uma lavagem estomacal e também foi submetido a um exame de sangue, que revelou níveis elevados de chumbo no organismo dele. Jane procurou a polícia no mesmo dia e fez a denúncia contra Cíntia.
Cíntia foi presa em 21 de maio e está no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste, e, em 10 de junho, teve a prisão temporária prorrogada pela Justiça em mais 30 dias, após um laudo complementar do IML identificar uma intoxicação por compostos carbofurano e terbufós no material gástrico do irmão de Fernanda. O documento afirma que “caso a vítima não tivesse sido submetida a tratamento imediato, como ocorreu, provavelmente teria evoluído para o óbito”.
‘Monstro’, define o pai de Fernanda sobre a ex-companheira
Fernanda morava com o pai, Adeílson Cabral, e a madrasta. Em entrevista ao Fantástico, o homem afirma que Cíntia implicava com Fernanda “às vezes, pelo dinheiro, porque a Fernanda gostava de viajar e eu às vezes financiava essa viagem, que é uma coisa normal de pai”.
Em 15 de março, após o jantar, Fernanda passou mal, com a vista embaçada e, logo depois, começou a babar e a ficar paralisada. Adeílson levou a filha ao hospital, que foi internada, às pressas, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), teve uma parada cardíaca e ficou intubada por 12 dias. No 13º dia, Fernanda morreu.
Em todo o tempo, Adeílson afirma que Cíntia o apoiou e tentava dar esperança a ele. “Falava que ela ia ficar bem, ‘vai melhor, hoje deve estar melhor’. Uma coisa normal de uma esposa que estava acompanhando o meu sofrimento”, lembrou Adeilson. Hoje, o homem classifica a ex-companheira como “monstro”.