Um morador do bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, denunciou maus-tratos a um cachorro de grande porte preso em um imóvel que sediou a agência do Bradesco, na Avenida Olegário Maciel, entre a Praça da Assembleia e a pizzaria Pizzarella.
De acordo com ele, há chances do cão ser "alugado" - uma prática comum para pessoas interessadas em proteger os bens. O animal está sozinho, no escuro, em ambiente sem ventilação. Uma pessoa vai até o local uma vez por semana para oferecer água e comida.
Alan de Andrade Pereira foi quem ouviu os latidos constantes do cão e achou estranho por ser um prédio vazio. Segundo ele, a prática de aluguel de cachorros vem se tornando comum em BH. Alguns cães são colocados em situações até piores, como locais descobertos e insalubres.
“Eu estava passeando com meu pet e ouvi uns latidos. Achei que viesse de algum apartamento. Até que um dia eu passei bem em frente e vi que os latidos vinham do imóvel, me chamou atenção porque o local é totalmente lacrado com tapume. Tentei ver e não consegui enxergar lá dentro”.
O morador então percebeu que havia um prédio residencial em cima da antiga agência e perguntou a uma funcionária do local sobre o cachorro. “Ela me disse que tem um cachorro lá, mas nunca viu ninguém ir lá alimentar ele”.
Alan buscou entender melhor sobre essa prática, e descobriu o aluguel de cães de guarda. Há indícios que o cão seja do “Canil Amaral Andrade”, que vem recebendo denúncias e reclamações na internet por supostos casos de maus-tratos.
Ele não acionou as autoridades porque foi informado pelos amigos que, na maioria das vezes, as ocorrências não são atendidas em razão da ausência de uma lei que proíba a prática.
“Não sei se é uma pauta legalizada, ou se é “legal” porque não existe uma lei que proíba, são situações diferentes. Nem tudo que é permitido é moralmente certo. E mesmo que não haja lei especificamente para essa questão, existem sim proibições aos maus tratos, e essa tem que ser cumprida”.
A reportagem do Estado de Minas entrou em contato por telefone com o Canil Amaral Andrade, mas até o momento da publicação não recebeu retorno.
Veja alguns comentários nas redes sociais sobre o Canil Amaral Andrade:
“Esse cachorro fica na Rua Ceará, sem comida e água todos os dias! Morrendo de fome!!! Antes tinha um outro cachorro e ele adoeceu, agora colocaram esse no lugar! ABSURDO!”
“Não vejo a hora do Ministério Público autuar esse Canil. Cães tratados como escravos dentro de obras, casas à venda. Cães que passam fome, frio , falta de água para beber. É absurdo angariar dinheiro fácil às custas desses animais como " cão de guarda na pele e osso". O que protege patrimônio são câmeras de Segurança, cerca elétrica entre outros!!! Covardia procriação desses animais aí No Amaral para serem tratados com tamanha atrocidade”
“À Rua Eng. Min. Hermenegildo de Barros, esquina com Plínio de Mendonça existe uma obra em que fica um cão (no muro tem o logo da empresa Canil Amaral) em que ele fica preso o dia todo em uma caixa de madeira minúscula....Pessoas da região já disseram que o animal chora horrores pela madrugada e fins de semana! Por favor, revejam isso...lucro tem que vir com qualidade para durar gerações!”.
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Projeto de Lei busca coibir a prática
Desde fevereiro de 2022, os vereadores Duda Salabert (PDT) e Wanderley Porto (Patriota) querem proibir o aluguel de cães de guarda para o serviço de vigilância em Belo Horizonte. Caso o Projeto de Lei 255/2022 seja aprovado, os proprietários dos animais, físicos ou jurídicos, teriam um ano para encerrar as atividades.
Para se tornar mais agressivo, o animal costuma ser trancado em local bem apertado, com pouca oferta de comida e água. À noite, quando é solto para a guarda, fica pronto para “atacar”.
Val Consolação, presidente da ONG de Belo Horizonte Vida Animal Livre e ativista que busca combater a prática de aluguel de cães de guarda, argumentou que já verificou denúncias sobre o Canil Amaral.
“Eles disseram que tem pessoas que vão uma vez por dia, e são mais de 60 animais. É uma prática cruel, e já foi discutida na Câmara Municipal, porém não foi aprovada, porque foi considerada inconstitucional”.
Val defende que condições dignas de vida devem ser dadas ao animal. “Eles ficam horas sem comida, água, sem contato humano nenhum. A legislação infelizmente não proíbe essa prática”.
A ativista confirmou que não existe uma lei que barre, então as autoridades ficam de mãos atadas para agir. “O problema maior é que tem um mercado, se eles oferecem esse serviço é porque tem quem compre. A lei tem que existir para punir quem aluga e quem coloca eles como mercadoria”.
Denuncie
Quem presenciar atitudes de maus-tratos contra animais pode denunciar para a Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Fauna de Minas Gerais pelos telefones 181 e (31) 3212-1339.
A equipe é responsável por investigar qualquer tipo de crime contra animais domésticos e silvestres, como abandono, agressões, maus-tratos e até tráfico na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Arruda
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