No âmbito das apurações que culminaram na denúncia contra Demétrius Oliveira de Macedo, procurador municipal de Registro (SP), por tentativa de feminicídio da chefe Gabriela Samadello Monteiro, testemunhas relataram ao Ministério Público que ele, agora réu, apresentava um "comportamento diferente do acusado em relação às mulheres com quem ele trabalhava". Segundo os promotores Daniel Godinho e Ronaldo Muniz, que subscrevem a acusação contra Demétrius, havia um comportamento diverso nas ocasiões em que o procurador estava sob chefia de mulheres, que não era o mesmo quando estava sob chefia de homens.
Preso preventivamente desde o dia 23, Demétrius responde não só por tentativa de feminicídio, mas também por injúria e coação no curso do processo. O juiz Raphael Ernane Neves, da 1ª Vara de Registro, aceitou a denúncia oferecida pelos promotores Godinho e Muniz na última terça-feira, e desde então foi aberto prazo de 10 dias para os advogados do procurador municipal apresentarem a defesa. Há a expectativa dos promotores de que seja realizada uma audiência preliminar em dois ou três meses e que o caso possa ser levado ao Tribunal do Júri em cerca de um ano.
Contrariedade
De acordo com as investigações, Demétrius "ficava contrariado de estar sendo chefiado por uma mulher". Os promotores indicam, ainda, que, no âmbito do procedimento interno que teria sido o estopim para as agressões dentro da prefeitura contra Gabriela, registradas em vídeo no último dia 20, é mencionado um caso de um desacato que o procurador teria praticado contra a chefe.
"Algo assim, de palavras duras, de não querer cumprir algumas funções. Não só quanto à vítima nesse caso, mas quanto a outras mulheres que falam abertamente: quando se tratava de um homem ocupando essa posição de destaque, o comportamento era totalmente diferente, de acatar ordem, fazer o trabalho da forma como era pedida, de entregar aquilo que se espera. Quando uma mulher ocupava esse cargo, (a postura) se alterava para esse comportamento de enfrentamento, de não se conformar de estar numa posição em que uma mulher ocupa um cargo de superioridade hierárquica", relatou o promotor Daniel Godinho.
Demétrius agrediu Gabriela no último dia 20, dentro da própria repartição em que ambos trabalhavam. Enquanto desferia socos contra a superior hierárquica, o procurador a xingava. Duas outras mulheres tentam impedi-lo de prosseguir com o espancamento, mas elas não conseguem contê-lo.
O procurador foi preso em uma clínica psiquiátrica em Itapecerica da Serra (SP). A defesa de Demétrius alega que ele sofre de problemas psiquiátricos.