As eleições de outubro e os ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao sistema de votação foram o tema de ontem da 74ª reunião anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), que vem se realizando na Universidade de Brasília (UnB). E durante os debates, uma conclusão: o sistema democrático está sob ataque em várias partes do mundo por conta dos próprios defeitos e questões não resolvidas.
A professora Soraya Vargas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), salientou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) é um dos mais destacados representantes da ofensiva antidemocrática internacional. "A extrema-direita populista e o bolsonarismo estão solidamente implantados no Brasil. O próximo governo terá que trabalhar para enfrentá-lo", previu.
Para ela, o presidente se destaca por uma recusa deliberada em exercer um papel de coordenador do federalismo brasileiro. "Esse ímpeto centralizador expressa a intenção do presidente, que tem um projeto político orientado para a construção de um futuro autoritário", salientou.
Na avaliação do professor Jairo Nicolau, da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), falar de democracia no Brasil é falar, necessariamente, das eleições — pois, conforme destacou, foi o principal marco da transição da ditadura militar para a democracia. Ao exemplificar, lembrou do movimento Diretas Já — que galvanizou a sociedade em torno da votação da emenda Dante de Oliveira, rejeitada no Congresso —, que pedia a volta das eleições presidenciais por meio do voto popular. "Estamos caminhando para a 21ª eleição no Brasil. A democracia brasileira tem a cara do processo eleitoral. O Brasil é uma das democracias mais pujantes do mundo", disse.
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Meio ambiente
Outro tema discutido ontem foram as políticas do atual governo em relação ao meio ambiente. E, mais uma vez, sobraram críticas à atuação do Ministério do Meio Ambiente. Segundo Suely de Araújo, a especialista-sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, "tivemos os órgãos que atuam no meio ambiente lutando pelo desmantelamento da política ambiental. Isso que foi a grande novidade e quase que uma tragédia no governo Bolsonaro".
"Tem muita coisa parada no ministério e todo mundo que assumiu algum cargo em governos anteriores não recebe nada para fazer. Muitos, inclusive, pediram licença sem vencimento ou remoção por outros órgãos porque não aguentam. É um assédio por não passar trabalho", afirmou.
A advogada Juliana de Paula Batista, integrante do Comitê dos Direitos de Povos Indígenas e Quilombolas do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), apontou que o projeto do marco temporal para a demarcação de terras indígenas — que aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal — atesta o incentivo do governo aos crimes ambientais.
"É como a gente pensar que, daqui a 30 anos, alguém vai dizer: 'Você só tem direito a esse apartamento se comprovar que estava nele em 28 de julho de 2022. O problema é que esqueceram de combinar isso com os indígenas, há 30 anos, que isso ia ser exigido deles", disse.