O fomento à ciência e tecnologia no país passa por um momento de baixa. Com um cenário complexo pós-pandemia, as universidades lutaram para manter a qualidade da produção de conhecimento. As dificuldades e os possíveis caminhos a seguir foram evidenciados no terceiro dia do 74º Encontro Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre até sábado, na Universidade de Brasília (UnB).
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luiz Davidovich, urge a necessidade de que o Brasil aumente os investimentos na área de pesquisa e desenvolvimento. Davidovich destacou que a comunidade científica tem trabalhado intensamente, especialmente na área da saúde. Ele citou, por exemplo, a atuação da Fiocruz, do Sistema Único de Saúde (SUS), do instituto Oswaldo Cruz no enfrentamento da pandemia de covid-19.
"É impressionante a atuação que temos na saúde mesmo com os ataques orçamentários na ciência. O Brasil tem infraestrutura para colaboração internacional, mas temos falta de apoio em pesquisa", destacou. Outro exemplo citado é o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que conta com significativa estrutura, mas que sofreu uma série de cortes no governo atual — a ponto de, em janeiro, o Instituto anunciar o desmonte da equipe que monitora o desmatamento do Cerrado por falta de verbas.
O ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Machado Rezende apontou que o maior percalço enfrentado para o avanço da ciência é a queda de investimentos em fundos de apoio à pesquisa científica e tecnológica, tais como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O ex-ministro enfatizou que o Brasil tem tropeçado e sofrido diversos retrocessos nos últimos anos. "Sem dúvidas nós teríamos mais resultados se não tivéssemos tantos sobes e desces nos governos. O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) oscila permanentemente por conta da descontinuidade de um governo após o outro", frisou.
Investimento
Em 2014, último ano em que houve patamares suficientes de investimentos, segundo os pesquisadores, a verba destinada à educação superior pública ultrapassava os R$ 3 bilhões. No ano seguinte, o número caiu para menos de R$ 1 bilhão, conforme dados de estudo divulgado durante o encontro. A partir de 2015, as universidades federais do Brasil tiveram reduzidos significativamente os aportes do Executivo.
Para a professora Soraya Soubhi Smaili, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), alguns artifícios podem ajudar no desenvolvimento da educação superior e da ciência no Brasil, como a criação de um plano nacional para a educação.
"Um plano que resgate as diversas dimensões que compõem a humanidade, do que nós somos, como a dimensão cultural, é tão importante quanto salvar a educação", avaliou.
*Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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