O anestesista Giovanni Quintella Bezerra, 31, foi indiciado nesta quarta-feira (20/7) pela Polícia Civil do Rio de Janeiro pelo crime de estupro de vulnerável. A Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, concluiu o inquérito e enviou o documento à Justiça ainda no mesmo dia. As investigações apontaram que o médico aplicou provável sedação 7 vezes na vítima e esperou apenas 50 minutos após a saída do marido para abusar da parturiente.
O inquérito também afirma que não foi identificado sêmen do anestesista nas gazes coletadas. Segundo o documento, o material passou por diversos recipientes até chegar à perícia e, por este motivo, não foi possível garantir a integridade da coleta. Além disso, o vídeo flagrante foi considerado íntegro e livre de alterações ou manipulações. A gravação tem mais de 1 hora e meia e foi feita pelos profissionais de saúde que trabalhavam com o médico e desconfiaram da postura de Bezerra durante as operações.
Ao todo, 19 pessoas envolvidas no caso testemunharam às autoridades. Entre os depoentes estava o próprio autor do crime, além da vítima e de seu marido, que era o acompanhante durante o parto, profissionais do hospital e policiais. O laudo médico que integra o inquérito concluiu o uso de cetamina e propofol e de outros medicamentos, que foram usados pelo anestesista para dopar a mulher em trabalho de parto.
Apesar da conclusão do inquérito, a Polícia continua a investigar todos os procedimentos cirúrgicos feitos por Bezerra. São mais de 40 possíveis casos de abusos cometidos por Bezerra.
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O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou o anestesista na última sexta-feira (15). O MP do Estado, assim como a Polícia Civil, também apontou crime de estupro de vulnerável na conduta do médico. Segundo o órgão, não era necessário aguardar o envio do inquérito por parte da Deam da cidade fluminense, uma vez que havia provas suficientes para abrir a denúncia. Além disso, o Ministério Público do Estado solicitou uma indenização para a vítima de valor não inferior a 10 salários mínimos.
“Giovanni Quintella Bezerra, agindo de forma livre e consciente, com vontade de satisfazer a sua lascívia, praticou atos libidinosos diversos da conjunção carnal com a vítima, parturiente impossibilitada de oferecer resistência em razão da sedação anestésica ministrada", afirma o documento.
No último dia 10, o profissional foi flagrado abusando sexualmente de uma mulher em trabalho de parto, no Hospital da Mulher Heloneida Studart, unidade de saúde estadual localizada em São João de Meriti, região metropolitana do Rio. O vídeo que incriminou Bezerra foi planejado pela própria equipe do hospital. Giovanni Bezerra segue preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, conhecido como Bangu 8, na capital carioca.
Cirurgião plástico
A Polícia Civil carioca também concluiu o inquérito do caso que envolve o cirurgião plástico equatoriano Bolívar Guerrero Silva, de 63 anos. Ele é acusado de manter Daiana Chaves Cavalcanti, 36, em cárcere privado no Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias (RJ). De acordo com o documento, a vítima está apodrecendo na unidade particular de saúde. Além disso, as autoridades apontam para um risco de infecção generalizada e que a paciente pode estar "à beira da morte”.
“Há indícios claros de que a vítima está apodrecendo naquele hospital, vide as imagens em anexo, podendo já estar inclusive com infecção generalizada e à beira da morte, mas sendo mantida lá para ocultar a atividade criminosa do médico”, diz o documento.
Em vídeo gravado na cama do hospital, a mulher implora para que a situação chegue ao fim: "Eu só queria que me tirassem daqui, para outro médico me acompanhar, porque eu já não aguento mais, já não aguento mais o que esse homem fez comigo. O meu peito está todo necrosado, está doendo tanto”.
As investigações concluíram que os funcionários da unidade hospitalar tentavam impedir a vítima de se comunicar com as autoridades. Uma acompanhante de Cavalcanti, que prestou testemunho aos policiais, relatou que o médico e sua equipe não permitem que a paciente seja transferida para outro hospital.
Segundo a depoente, a paciente sofreu chantagem por parte de Silva quando tentou ser transferida para o Hospital Federal de Ipanema. Ela relatou que o cirurgião plástico ameaçou não autorizar que a máquina de drenagem acompanhasse a vítima em caso de transferência. A Polícia ressaltou que, na condição em que se encontra a mulher internada, essa medida poderia matá-la.
“Considerando a gravidade dos fatos, inclusive a suspeita de tentativa de adulteração do prontuário pelo investigado, diante da protelação do envio da documentação requisitada já há 4 dias, bem como o risco à saúde e vida da paciente, ora vítima, diante do seu quadro de saúde agravado por inúmeras cirurgias, com a negativa de transferência da paciente, conforme relatado pelas testemunhas e pela própria vítima, deixando claro o objetivo de ocultação à responsabilidade penal”, afirma o inquérito.
A mulher continua internada em estado grave no Hospital Santa Branca. De acordo com outra testemunha, os pontos cirúrgicos de Daiana Cavalcanti sempre soltavam e suas feridas apresentam pus e estão com um aspecto necrosado. O médico negou as acusações de cárcere privado e inclusive afirmou que a mulher internada não quis ser transferida.
A família da vítima já conseguiu duas liminares na Justiça, porém nenhuma delas havia sido cumprida até ontem. Em 14 deste mês, foi determinada a transferência da paciente para outra unidade de saúde, sob a pena de multa em R$ 2 mil. Na última segunda, outra liminar foi deferida, dessa vez, na esfera criminal.
Além dela, pelo menos outras 12 ex-pacientes de Bolívar Guerrero Silva já foram até a Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, denunciar erros médicos em procedimentos feitos cirurgião plástico.
*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Nader
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