A Polícia Civil de São Paulo entrou, à força, na mansão de Margarida Bonetti, conhecida como 'A Mulher da Casa Abandonada', para cumprir um mandado que pretende averiguar se a mulher é vítima de abandono de incapaz pela família e se sofre de distúrbio psiquiátrico. A operação na casa, situada no bairro Higienópolis, em São Paulo, começou por volta das 15h desta quarta-feira (20/7) e ainda está em curso no momento de publicação desta matéria.
De acordo com a corporação, agentes da Polícia e do Corpo de Bombeiros estão no local para averiguar as condições estruturais e de higiene da casa, a fim de determinar se há condições da mulher continuar na casa. Eles chegaram ao local e não foram atendidos por Margarida. Os agentes pularam o portão e bateram na porta da casa, que estava trancada. Uma tentativa de arrombar a porta foi feita, mas não teve sucesso.
Margarida, que estava no local, gritou para que os agentes saíssem da propriedade e negou abrir a porta. Duas agentes forçaram a entrada por uma das janelas e, logo após, abriram a porta principal para a equipe entrar no local. A advogada da irmã de Margarida entrou antes do local e conversou com a mulher. Ela permanece na mansão durante toda a operação.
Para o delegado-geral da Polícia Civil, Nico Gonçalves, é dever do estado verificar se a mulher pode continuar na casa. “É dever nosso, da prefeitura e do governo avaliar a situação da casa. É questão de saúde, não é bom ela ficar lá”, disse em entrevista ao Cidade Alerta.
A polícia ainda averigua a situação da casa, mas os agentes afirmam que a casa está com luz e água em funcionamento, no entanto, segundo os policiais, há muito entulho e lixo no local. Do lado de fora, uma multidão se acumulou e entoava uma música em que Margarida era alvo de xingamento. "Ei, Margarida, vai tomar no c*", dizia a letra.
A história de Margarida foi revelada no podcast jornalístico A mulher da casa abandonada, de Chico Felitti e promovido pela Folha de S.Paulo. Lançado em 8 de junho com episódios semanais, o trabalho de apuração sobre a peculiar mulher que transitava na rua da mansão com o rosto sempre coberto por uma pomada ganhou repercussão nacional.
A produção jornalística revelou que Margarida mora no local desde 2000, quando voltou ao Brasil para evitar ser indiciada e julgada pelo crime de agressão e de trabalho análogo à escravidão contra a ex-empregada — violência cometida entre o fim dos anos 1970 e o início dos anos 2000. O marido dela, Renê Bonetti, se manteve no país, foi condenado e cumpriu a pena de seis anos de prisão.
No podcast, Chico Felitti afirma que Margarida se mantinha isolada em uma mansão, sem manutenção, com entulho e lixo amontoados, em um bairro nobre de São Paulo, por estar fugindo do julgamento do crime que remete à escravidão.
O último episódio do podcast foi lançado nesta quarta-feira, e conta com a primeira entrevista de Margarida Bonetti sobre o caso. Nas gravações, ela nega ter cometido os crimes e diz que as provas foram forjadas pelo FBI e por um grupo de advogados norte-americanos.
O inquérito iniciado pela Polícia Civil de São Paulo foi instaurado na primeira semana de julho após, de acordo com a corporação, receber ligações da vizinhança com denúncias de que morava na mansão “uma pessoa que apresenta problemas de saúde mental e que estaria necessitando de ajuda”.
Instituto de resgate à animais tenta resgatar mais um animal na mansão
A polícia encontrou, dentro da casa, um cachorro de pequeno porte, que aparenta ser da raça pinscher, em condições de maus tratos. O delegado Luiz Carlos Zapparolli informou à imprensa no local que o cão estava “em condição totalmente assustada, tremendo” e que era “difícil até de pegar, o cheiro é terrível”.
A ativista Luísa Mell, fundadora do instituto de resgate e cuidados de animais com o mesmo nome, estava no local. Em uma live, é possível ver Luisa amparar o cachorro, quando Margarida se dirige até ela e arranca o animal dos braços dela.
“Com licença, minha cachorra. Ela é minha. Não vai pegar essa também não, não mesmo”, fala alterada Margarida. Em seguida, ela percebe que é filmada e pede para os policiais que mandem as pessoas embora. Veja:
A Margarida Bonetti apareceu na live da Luisa Mell. Chocada pic.twitter.com/I79pMlARjc
— bea (@funkeirinhe) July 20, 2022
O Instituto Luisa Mell resgatou, em 3 de julho, duas cadelas que viviam no local. Uma delas foi diagnosticada com câncer e um tumor no abdômen. Na ocasião, Margarida não estava no local.
Após retirar a cachorra dos braços de Luisa Mell, Margarida colocou o animal dentro da blusa, sem nenhuma ventilação. Questionada pela ativista sobre a respiração do cachorro, ela disse que a cachorra está acostumada.
Luisa e outros voluntários do Instituto insistiram e pediam para Margarida entregar o animal. Ela se irrita e começa a gritar. "Vocês querem tirar tudo de mim! Não vai levar, é meu cachorro! Quem é você?", gritava para Luisa e outros voluntários.
Minutos depois, um voluntário, identificado como Bruno, consegue se aproximar da mulher e puxar o cachorro de debaixo da blusa dela. Margarida segue o homem e o agarra pelo pescoço. "A senhora está me agredindo", grita o homem. Em seguida, ele entrega o animal para Luisa, que corre do quintal. Veja os minutos em que o resgate foi feito:
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