gilberto chateaubriand

Com a morte de Gilberto Chateaubriand, arte brasileira perde o maior defensor

Diplomata reuniu ao longo da vida acervo de aproximadamente 8 mil obras. Boa parte delas está à disposição do público no MAM-RJ

Fernanda Strickland
postado em 15/07/2022 06:00
 (crédito: Arquivo pessoal/Divulgação)
(crédito: Arquivo pessoal/Divulgação)

Dono de uma das mais importantes coleções de arte brasileira, o colecionador e diplomata Gilberto Chateaubriand morreu, ontem, aos 97 anos, em Porto Ferreira (SP). Segundo relatos de pessoas próximas, ele foi encontrado já sem vida por uma neta, enquanto dormia. Filho do jornalista e empresário Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados, Gilberto era considerado o maior defensor das artes plásticas do país e um dos responsáveis por colocá-las em alto patamar de importância junto à comunidade internacional.

Nascido em Paris, em 1925, Gilberto Francisco Renato Allard Chateaubriand Bandeira de Melo reuniu ao longo da vida um acervo de mais de 8 mil obras. Parte dele integra, atualmente, a coleção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), do qual Gilberto era o principal colaborador.

Por meio de nota, o MAM Rio lamentou a morte do colecionador. "Em comodato com o museu desde 1993, parte da coleção, de arte brasileira moderna e contemporânea, é uma das mais importantes do país", tuitou a direção da instituição.

Já o Museu de Arte do Rio (MAR) ressaltou a importância da dedicação de Gilberto para a produção cultural brasileira. "Dono de mais de 8 mil obras de arte e um dos principais doadores do Museu de Arte Moderna do Rio, Gilberto iniciou sua parceria com o MAM em 1993. A coleção que leva seu nome é uma das mais notáveis da arte brasileira, com obras que vão desde o modernismo até a produção contemporânea", tuitaram os gestores do MAR.

A importância de Gilberto pode ser medida pelo fato de ser membro das curadorias do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e da Fundação Cartier para Arte Contemporânea (Paris). Além disso, participava das comissões administrativas da Fundação Bienal de São Paulo e do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). Também compunha o conselho do Paço Imperial (Rio), do MAM-RJ e do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP).

Segundo Carlos Alberto Cheteaubriand, o pai respirava a arte brasileira 24 horas por dia. "Tinha muita alegria e estava sempre rodeado de artes e artistas. Morreu em sua fazenda, aos 97 anos, com muitas realizações, como sempre sonhou", disse.

Ao longo da vida, Gilberto reuniu inúmeras obras de nomes consagrados — entre os quais Portinari, Tarsila do Amaral, Guignard, Pancetti, Djanira, Anita Malfati, Iberê Camargo, Maria Martins, Lasar Segall, Lygia Pape, Lygia Clark e Hélio Oiticica. Era dono de quadros, gravuras, fotografias, instalações, rascunhos e esculturas que, segundo especialistas, foram definidoras das artes plásticas brasileiras. O MAM-RJ guarda mais de 6 mil peças e parte delas está ao alcance do público em uma exposição que fica em cartaz até janeiro de 2023.

Interesses

Gilberto foi um dos primeiros a se interessar por trabalhos de artistas que constituíam o polêmico movimento da Nova Figuração, no final dos anos 1960. Foi por conta da atuação do colecionador que nomes como Glauco Rodrigues, Antonio Manuel, Rubens Gerchman, Antonio Dias, Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Carlos Zílio e Anna Maria Maiolino, com obras de acentuado teor político, alcançaram um patamar superior e passaram a ser respeitados pela comunidade artística e intelectual.

Para Gilberto, arte era um conceito amplo e que incluía vários formatos e manifestações. Por causa disso incorporou à coleção, nos anos 1990, trabalhos de fotógrafos como Rosângela Rennó e Miguel Rio Branco.

Essa visão abrangente sobre arte levou Gilberto a somar ao acervo obras polêmicas, como B33 Bólide caixa 18 homenagem a Cara de Cavalo, de Hélio Oiticica. Trata-se de um tributo ao criminoso Manoel Moreira, o Cara de Cavalo, acusado do assassinato do policial civil Milton Le Cocq, no Rio de Janeiro, nos anos 1960. A instalação reúne elementos distintos, como madeira, fotografia, náilon, acrílico, plástico e pigmentos — e é considerada um dos grandes trabalhos de Oiticica.

Gilberto será homenageado com um instituto cultural que levará seu nome na fazenda onde morava, há mais de 40 anos, em Porto Ferreira. A organização está a cargo de Carlos Alberto e o acervo contará com pouco mais de 600 obras, que incluirá quadros e esculturas. A ideia, também, é reunir trabalhos de aproximadamente 500 artistas contemporâneos em exibição, hoje, no MAM-RJ, e mais 130 de pintores do século 20.

O corpo de Gilberto está sendo velado em Porto Ferreira e, depois, seguirá para o Cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, onde será sepultado.

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