Amazônia

Univaja vê omissão no caso Bruno e Dom

Isabel Dourado*
postado em 07/07/2022 00:01
 (crédito:  Pedro França/Agencia Senado)
(crédito: Pedro França/Agencia Senado)

Um mês após o brutal assassinato do indigenista Bruno Araújo e do jornalista britânico Dom Phillips, a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) insiste que a pressão nacional e internacional não pode parar. A entidade cobra a apuração do assassinato e a identificação de possíveis mandantes do crime. Segundo o procurador jurídico da Univaja Eliesio Marubo, a omissão do Poder Público deixa os indígenas temerosos pela segurança das comunidades.

"Trinta dias depois do assassinato de Dom e Bruno na região do Vale do Javari continuamos na mesma sensação de insegurança de antes, conforme a Univaja já tinha previsto. As autoridades nada fizeram para fortalecer a segurança na região. A Polícia Federal ainda investiga o caso e autoridades policiais têm feito conclusões pessoais sobre o desfecho do crime", disse o procurador.

Ontem, Beto Marubo enviou ao Correio uma carta em homenagem ao indigenista Bruno Pereira — um amigo pessoal a quem chamava de "grandão" — e ao jornalista britânico Dominic Phillips. Leia um trecho:

"Grandão, o acampamento está pronto, feito com palhas de cocão. Ouço o barulho das grandes árvores vindo do leste. Os macacos zoguezogue anunciam o amanhecer. A terra enlameada do acampamento logo estará vazia, pois as equipes de expedição seguirão viagem rio acima. Os igarapés nas margens dos rios Curuçá e Itaquaí estão secos, onde um bando de queixadas passou ontem. A anta assobia solitária pelo rio Jaquirana. A jacutinga canta triste pelas cabeceiras do Jutaí lá pelas bandas do rio Ituí. Os isolados estão tocando suas flautas, feitas de ossos de macaco preto. Os Korubos estão querendo retornar as suas terras no rio Coari. Os Matis voltaram às pazes com os Korubos e, agora, planejam tomar cipó tatxik nas cabeceiras do rio Branco (...).

Agora, o mundo inteiro sabe que, no Vale do Javari, reina a omissão, a inação e a política negacionista, a ausência total de Estado em nossa terra, mesmo após um mês do seu assassinato. Sabem até que a Fundação Nacional do Índio (Funai) perseguia e continua perseguindo você. O atual presidente deste país tentou de todas as formas desconstruir a sua história, mas ela se manterá por gerações, pois nós, povos do Vale do Javari, sabemos que você morreu por nós, pela nossa terra. Nunca vamos nos esquecer disso. A sua luta continuará através de nós e de nossas gerações (...).

Teremos de seguir, tristes, sem a sua companhia. Fique bem, prossiga a sua expedição pelas matas da minha terra. Vamos nos falando pelos sonhos da ayahuasca. Oshatso, Grandão!"

*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Doria

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