O corpo de Bruno Araújo Pereira foi cremado, ontem à tarde, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife. Ele foi assassinado, no último dia 5, junto com o jornalista inglês Dom Phillips devido às denúncias que fazia pelo avanço da criminalidade organizada no Vale do Javari (AM), colocando em risco as comunidades originárias da região. O velório emocionou parentes e amigos do indigenista por causa da presença de representantes da etnia Xucuru, que entoaram cânticos em homenagem ao indigenista.
O caixão de Bruno foi coberto com as bandeiras de Pernambuco e do Sport Clube do Recife, e uma camisa da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O indigenista, morto com três tiros a princípio disparados por Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, tinha 41 anos e serviu à Fundação Nacional do Índio (Funai) por 11 anos. Foi afastado das funções que ocupava na autarquia após denunciar e liderar uma operação contra o garimpo ilegal no Javari.
Bruno era considerado um dos maiores indigenistas da sua geração. De acordo com a Univaja, devido ao trabalho que fazia junto aos povos originários da região, ele tinha recebido diversas ameaças de morte. Já os restos mortais de Dom Phillips serão cremados amanhã, em Niterói (RJ).
Em Brasília, Bruno foi homenageado pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato em cerimônia no Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas, na Universidade de Brasília. Os ativistas cobraram uma investigação profunda do duplo homicídio.
Sidney Possuelo, indigenista e ex-presidente da Funai, estava entre os que homenagearam Bruno. "Os combatentes lutam e, às vezes, podem sucumbir. Ele sucumbiu na luta pela defesa dos povos indígenas, pela preservação da Floresta Amazônica. A luta tem que continuar", exortou.
Soltura
E um dia depois de ter se apresentado, em São Paulo, na última quinta-feira, como participante do assassinato de Bruno e Dom, Gabriel Pereira Dantas foi solto ontem pela Polícia Federal. Os investigadores dizem que a versão dele é "pouco crível e desconexa com os fatos até o momento apurados".
Gabriel detalhou, com "riqueza de detalhes", segundo os delegados que o ouviram, como ajudou a esconder os pertences, a ocultar os corpos e a afundar o barco de Bruno e Dom. Na versão que deu, considerada verossímil pela Polícia Civil, ele passou os últimos dias em fuga da região onde houve o crime até a capital paulista. O objetivo seria chegar ao Rio de Janeiro.
No dia do crime, Gabriel afirmou que estava bebendo com Pelado e recebeu o convite para sair de barco — teriam encontrado Bruno e Dom no Rio Madeira, na altura da comunidade Vila Isabel. O suspeito afirmou que o jornalista e o indigenista não tinham "prática em andar rápido" e foram alcançados após uma perseguição. Gabriel atribuiu a execução a Pelado. (Com Agência Estado)