Mais de 245 mil brasileiros sofreram com a amputações de membros inferiores — pernas e pés — entre 2012 a 2021. O levantamento foi feito pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), que aponta uma alta progressiva de amputações durante a pandemia de covid-19. A pesquisa também levanta que mais da metade dos casos de amputação envolvem pessoas com diabetes e pré-diabéticos.
O estudo foi elaborado a partir de informações do Ministérios da Saúde, e aponta que, em média, 66 pacientes passam por cirurgias de amputação por dia, e pelo menos três por hora. O Dr. Sergio Belczak, cirurgião cardiovascular e endovascular e titular da SBACV, explica que com base em países subdesenvolvidos as taxas brasileiras são semelhantes, mas em comparação a países com maior poder aquisitivo o número de procedimentos no Brasil é elevado.
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Além da diabetes, a pesquisa sinaliza que existem outros fatores de risco para as amputações como tabagismo, hipertensão arterial, dislipidemia, idade avançada, insuficiência renal, estados de hipercoagulabilidade e histórico familiar. Entretanto, Belczak reitera que a falta de cuidados com a diabetes é o que leva a maior causa de amputação. “Como regra geral, os fatores que levam a amputação, são pacientes portadores de diabetes que apresentam alguma pequena lesão no pé e que por falta de circulação adequada, falta de sensibilidade, deficiência no sistema imune, essas pequenas feridas com grandes infecções e necroses acabam levando amputação de dedo, pé e até mesmo a perna.”
O médico acrescenta que boa parte das amputações poderiam ser evitadas se os pacientes tivessem um controle mais rigoroso sobre as doenças. "Os diabéticos seguissem mais as orientações em relação ao pé diabético, como por exemplo o exame ou o autoexame do pé por algum familiar, ou por algum profissional da saúde, com frequência muitos casos poderiam ser evitados. Assim, o controle rigoroso da glicemia faz com que tenha um paciente que tenha menos sequelas em decorrência do diabetes e daí certamente menos alterações nos olhos, nos rins e no pé".
Entre os muitos casos de amputação, um deles é da Marlene Nunes Lamonica, de 66 anos, que passou por uma amputação do dedão do pé direito. “Sou diabética e tive uma ferida no pé causada por uma sandália que infeccionou, até chegar no osso, causando osteomielite", explica.
Durante a pandemia
Os dados da pesquisa, indo na contramão das tendências de diminuição de procedimentos hospitalares durante a pandemia, os números de amputações sofreu uma alta progressiva entre 2019 e 2021. Os pesquisadores associam isso à suspensão de acompanhamentos clínicos durante a crise.
A SBACV entende que o aumento dos procedimentos ocorreu pela dificuldade de acompanhamento das complicações na saúde dos pacientes, que abandonaram o tratamento ou evitaram ir aos hospitais por causa da covid-19. “Em decorrência da pandemia os pacientes portadores de diabetes e consequentemente pré diabético procuraram menos assistência médica. Então eles deixaram essas lesões, suas feridas, evoluírem mais. É dessa forma que aumentou a taxa de amputação. Por falta de procura de assistência médica e das pessoas que decidiram ficar em casa durante a pandemia”, comenta o médico.
A pesquisa constatou que em 2020 a média diária de amputação chegou a 75,64, já em 2021, essa razão subiu para 79,19, podendo se relacionar as consequências a descontinuidade do acompanhamento médico dos pacientes. Ou seja, em 2020 e 2021, por mês aconteceram cerca de 2.354 amputações.
*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori