Lisboa —A polícia da Hungria prendeu, ontem, o brasileiro Sérgio Roberto de Carvalho, 62 anos, o Major Carvalho, um dos maiores traficantes de drogas do mundo. Ele usava um passaporte mexicano e estava foragido desde 2018, quando foi visto pela última vez. O traficante era procurado pelas polícias do Brasil e da Europa.
A perspectiva é de que o Carvalho seja extraditado para o Brasil. Em Portugal, o ex-policial brasileiro era investigado depois de uma van ligada a ele ter sido encontrada com 12 milhões de euros. Ele é considerado um dos cabeças de uma rede internacional de tráfico de drogas. De acordo com a imprensa portuguesa, ele deverá ser processado por lavagem de dinheiro no país.
Depois de fugir do Brasil, o bandido teria montado sua base entre Portugal — onde tinha um apartamento e um escritório em Lisboa — e Espanha, em que aparece como dono de uma mansão de luxo avaliada em 2 milhões de euros em Marbella. Estima-se que, desde 2017, o grupo chefiado por Carvalho tenha enviado mais de 50 toneladas de cocaína para a Europa, avaliada em 360 milhões de euros.
Com longa ficha corrida, ele foi transferido para a reserva remunerada da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul em 1997. No ano seguinte, foi condenado a mais de 15 anos de prisão pelo tráfico de 237 quilos de cocaína. Depois de um longo processo, Carvalho perdeu o posto e a patente policial. Em 2010, teve a aposentadoria suspensa.
Em 2018, depois de longo processo administrativo e jurídico, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) conseguiu expulsá-lo da Polícia Militar após condenação na Justiça Federal por tráfico de drogas.
A prisão foi feita numa cooperação internacional entre a Polícia Federal (PF), a Interpol da Hungria e a Polícia Judiciária de Portugal. O Ministério da Justiça e Segurança Pública deverá pedir a extradição de Carvalho — que é chamado na Europa de "Pablo Escobar brasileiro" —, que, entretanto, teria também contas a prestar à Justiça portuguesa.
Operação Enterprise
Segundo a PF, a prisão decorreu das investigações desenvolvidas no âmbito da Operação Enterprise, deflagrada em 2020, que apreendeu R$ 500 milhões da rede criminosa da qual Carvalho era o líder. Foram expedidos mandados de prisão para ele e seus comparsas. Já processados anteriormente por tráfico de drogas, estavam há anos em fuga.
"No momento, a Polícia Federal adota as providências formais decorrentes da captura após as diligências policiais que culminaram nessa importante prisão", informou a corporação.
Em fevereiro, a imprensa espanhola publicou um verdadeiro enredo cinematográfico sobre Carvalho, que tinha várias identidades falsas. Usando o nome de Paul Wouter, ele vivia em Marbella e foi alvo de um pedido de condenação de 13 anos por parte da promotoria, pois foi ligado a um carregamento de 1.700 quilos de cocaína encontrados na Galícia. Mas o tribunal recebeu um atestado de óbito datado de 29 de agosto de 2020, que afirmava que Wouter havia morrido de covid-19.
Foram as autoridades brasileiras que alertaram à Justiça que as impressões digitais de Wouter coincidiam com as de Carvalho — e acreditavam que o óbito era falso. Os investigadores julgavam que o ex-policial militar mantinha uma base em Portugal, em Dubai ou Ucrânia, mas acabou sendo preso na Hungria. (Com Agência Estado)