A ampliação da triagem neonatal, o teste do pezinho, é uma conquista da sociedade brasileira. A mudança foi possível por conta da Lei 14.154/21, sancionada em março do ano passado. No entanto, o aumento do alcance ainda enfrenta inúmeros desafios, como a falta de acessibilidade para a população e a sobrecarga do sistema público de saúde.
No debate de terça-feira (21/6) no CB.Fórum, a coordenadora do Programa Triagem Neonatal da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), Carmela Maggiuzzo Grindler, avaliou que a chave para garantir a identificação e prevenção de todas as doenças está na acessibilidade.
"A palavra é acesso. Acesso ao diagnóstico, ao tratamento, ao acompanhamento. Não é um simples exame. É um exame que implica em uma política pública, e essa política tem que respeitar os pilares do SUS (Sistema Único de Saúde). Também temos que respeitar a equidade: colocar os mais graves em espaços que tenham infraestrutura para atender os mais graves", frisou.
A especialista comentou a importância da tecnologia como aliada nesse processo. "Nas reuniões no Ministério (da Saúde), sempre digo que a tecnologia da informação, a inteligência artificial, tudo isso tem que vir também para a saúde", defendeu.
Carmela ainda chamou atenção para o fluxo migratório de pacientes e suas famílias para alguns estados, sobrecarregando o sistema em algumas regiões. "Cerca de 40% da corrente migratória de saúde se dá para o estado de São Paulo por conta de doenças raras. A gente tem que pensar na família, na saúde mental, na assistência social, na assistência psicológica. Entendo que a tecnologia pode construir pontes", observou.
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Especialização
Ela salientou, ainda, a necessidade de haver tratamento especializado. "Vamos precisar, pela primeira vez no SUS, de fórmulas não industrializadas. É um desafio a triagem das doenças para as quais é preciso o ajuste à necessidade de medicina de precisão. É como um quebra-cabeças e entender o preenchimento desse tabuleiro para que a imagem total aconteça. É preciso conhecer cada um dos aspectos", destacou.
A especialista frisou que o Poder Executivo tem a responsabilidade de garantir o acesso à população. "É a cabeça de toda essa rede e tem um papel de efetivar todo esse fluxo — de acesso ao diagnóstico e de acesso ao tratamento com dignidade, com qualidade, com tecnologia de ponta", ressaltou.
Reforço
No mesmo painel, o presidente da Casa Hunter, Antoine Souheil Daher, deixou claro que outro grande desafio da ampliação do teste do pezinho é a necessidade da rapidez do exame. "Isso aumenta a eficiência para o paciente, diminui a angústia e cumpre a finalidade para qual foi criado", afirmou.
Daher também aponta a tecnologia como fundamental na realização dos testes, mas cita outras etapas do processo. "O maior desafio é como fazermos num tempo ágil, que atenda à necessidade de pacientes de todos o país. Em alguns lugares, é muito fácil planejar, mas, em outros, não. O desafio é atingir o nacional, não apenas alguns estados e municípios", observou.
Daniela Mendes, superintendente-geral do Instituto Jô Clemente, pioneiro no teste e referência no exame, frisou a necessidade de uma organização do modelo ampliado junto ao Ministério da Saúde e a capacitação dos profissionais para manejá-lo.
"O grande desafio é a capacitação, estabelecer protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas. Várias doenças ainda não têm um protocolo definido e isso é um problema", afirmou.