Após 11 dias de buscas na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas, terminaram, nesta quarta-feira (15/6), as buscas pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista Dom Phillips. Ao longo desses dias, pelo menos 100 indígenas voluntários de cinco diferentes etnias tiveram papel fundamental nas buscas. Foram eles que encontraram os pertences dos dois e também o barco de Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", detido como suspeito pelo desaparecimento.
Apesar da importância da participação, na coletiva de imprensa desta quarta, a Polícia Federal não fez menção ao trabalho dos indígenas e não havia nenhum deles sentado à mesa, apenas representantes de várias instituições envolvidas nas buscas. Após a coletiva, o superintendente da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM), Alexandre Fontes, se desculpou por não ter citado os indígenas.
Segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), os indígenas começaram as buscas antes mesmo das autoridades brasileiras. Além disso, foram eles que mapearam os 26,40km² de extensão percorridos pelas equipes de busca.
Participaram das buscas indígenas das etnias Marubos, Maiurunas, Matis, Kulinas e Kanamaris. As equipes foram treinadas pelo próprio indigenista Bruno Pereira durante uma atividade da Univaja.
Os pertences de Dom e Bruno foram encontrados no domingo (12/6) por indígenas da etnia Kanamaris. Foram achados uma mochila com roupas, remédios e um cartão de saúde submersos no rio Itaquaí, próximo à cidade de Atalaia do Norte. Os corpos dos dois foram encontrados a cerca de 3 km deste local.
Em nota, emitida na noite desta quarta, a Univaja afirmou que as equipes envolvidas nas buscas não trataram os indígenas como parceiros, com exceção do 8° Batalhão da Polícia Militar em Tabatinga. "Os únicos a no tratarem como verdadeiros parceiros na busca, valorizando o nosso conhecimento e a nossa sabedoria enquanto povos indígenas, conhecedores do nosso território", destaca.
Nesta quinta, a família de Dom Phillips também fez um agradecimento especial aos indígenas que atuaram nas buscas. "Agradecemos a todos que fizeram parte das buscas, especialmente os grupos indígenas que trabalharam incansavelmente para encontrar evidências do ataque", disse.
As buscas
O Vale do Javari é uma das áreas mais remotas da Amazônia e fica na fronteira com o Peru, lá vivem pelo menos 6 mil integrantes de sete etnias e é onde vivem mais indígenas não-contatados do mundo, são pelo menos sete povos isolados. A Terra Indígena tem mais de 8,5 milhões de hectares e o acesso só pode ser feito por via fluvial ou aérea.
Os dois desapareceram no Rio Itaquaí no trecho entre a comunidade ribeirinha de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. A região fica no limite da terra indígena. A viagem de 72 km deveria durar duas horas.
As buscas começaram no próprio domingo, liderada por indígenas, que percorreram todo o trecho duas vezes, mas nenhum vestígio foi encontrado. Na segunda, as autoridades foram alertadas do desaparecimento dos dois. As buscas então ganharam reforços de equipes das polícias Federal, Militar, Civil e da Força Nacional.
Nesta quarta-feira, um dos suspeitos de envolvimento no crime, o "Pelado", confessou o assassinato e levou a polícia até o local onde teriam sido deixados os corpos.