A perícia realizada pelas polícias Civil e Federal encontrou "muitas amostras" de sangue na lancha de Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, de 41 anos, considerado o principal suspeito pelo desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira. O material genético, porém, ainda precisará ser analisado para concluir se é humano ou de algum animal. A previsão é de que o resultado saia em 30 dias.
"A Polícia Federal confirmou que a amostra foi localizada após inspeção na lancha, com uso de luminol. Além disso, amostras de digitais foram colhidas para serem confrontadas com as digitais dos dois desaparecidos", diz o trecho da nota emitida pela corporação.
O material foi encaminhado para Manaus para ser analisado. Por causa desses vestígios, o delegado da Polícia Civil do município de Atalaia do Norte, Alex Perez Timóteo, pediu a prisão temporária de Amarildo — que estava detido para averiguação desde a última terça-feira.
O pescador foi preso em flagrante por posse ilegal de munição de uso restrito — calibre 762, usadas em fuzis — e por deter uma certa quantidade de cocaína. A região do desaparecimento de Bruno e Dom é conhecida por uma cadeia de crimes ambientais que se conectam com o tráfico de drogas e de armas.
Contra Amarildo pesa, também, a informação dada por uma testemunha, em depoimento, que viu o barco em que estavam o jornalista e o indigenista passar por ela e, pouco depois, cruzar com a lancha em que estava o pescador e outra pessoa ainda não identificada. Além disso, a embarcação em que estavam Dom e Bruno teria um motor menos potente (40hp) do que a de Amarildo (60hp), o que indicaria que poderiam ser alcançados e emboscados em algum local mais ermo.
Protestos
Duas manifestações, uma em Londres e outra em Los Angeles (EUA) — onde está o presidente Jair Bolsonaro, para participar na Cúpula das Américas — cobraram respostas sobre o desaparecimento de Dom e Bruno. Na capital inglesa, o ato organizado pelo Greenpeace contou com a presença da irmã do jornalista, Siam.
"Eles (as autoridades) podem fazer mais, podem intensificar as buscas, colocar mais recursos para isso. E se houve alguma atividade criminosa, as pessoas buscarão justiça", pediu a irmã de Dom, junto com um grupo de pessoas vestidas de vermelho e rosas da mesma cor. Todos levavam cartazes com os dizeres "Find Dom & Bruno" (Achem Dom e Bruno).
Já em Los Angeles, duas caminhonetes circularam com grandes telas de LED questionando o paradeiro do indigenista e do jornalista. Os telões traziam, ainda, uma imagem de queimada na Amazônia — onde se lia a legenda "Bolsonaro is burning the Amazon" (Bolsonaro está queimando a Amazônia) — e outra, com o rosto de presidente, emoldurada com os dizeres "Liar in town" (Um mentiroso na cidade).
Além dos protestos, editores e responsáveis por importantes organizações e veículos de comunicação, no Brasil e no exterior — como os jornais The Guardian, The Washington Post, The New York Times — remeteram uma carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro (PL) cobrando empenho nas buscas por Bruno e Dom. "Estamos muito preocupados com relatos do Brasil de que os esforços de busca e resgate até agora têm recursos mínimos", diz um trecho do documento.
*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi