Mesmo com apenas 8,55% das verbas de combate à pandemia tendo sido destinadas a compras de vacinas contra a covid-19, o Brasil poupou cerca de 500 vidas diariamente nos primeiros quatro meses de imunização contra a doença — entre fevereiro e junho de 2021. Os dados são do estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), encomendado pela farmacêutica Pfizer, lançado nesta quarta-feira (8/6).
Nos outros quatro meses seguintes, a quantidade aumentou para 600 pessoas. “Lidar com todos os desafios da pandemia foi devastador, mas a vacinação trouxe esperança. A divulgação desse estudo nos mostra, mais uma vez, a importância dos imunizantes como meio para proteção da saúde”, afirmou Adriana Ribeiro, diretora médica da Pfizer no Brasil.
Desigualdade na vacinação
Mesmo assim, o estudo também revela o avanço desigual da vacinação no país, seja em termos regionais, seja por faixa etária. De acordo com o levantamento, a imunização infantil ainda encontra resistência, o que torna necessária as campanhas de incentivo à vacinação e controle de notícias falsas.
As populações mais jovens, principalmente os menores de 19 anos, são as mais carentes em esforços para cumprir a meta de vacinação. “Enquanto temos uma média de 1,07 doses aplicadas na faixa de 5 a 11 anos e 1,35 doses de 12 a 19 anos, as faixas a partir de 20 anos partem de uma média de 1,99 doses”, diz o texto. O levantamento também aponta que a hesitação à vacinação infantil está umbilicalmente ligada à disseminação de fake news em redes sociais.
“A baixa cobertura vacinal que registramos atualmente nos coloca diante de um cenário preocupante. Precisamos mudar isso, antes que tenhamos o registro elevado de casos como de meningite, sarampo e até mesmo de poliomielite que ameaça retornar ao país, entre outras doenças que podem provocar condições graves, com sequelas irreversíveis”, afirma Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
O levantamento também considerou questões econômicas, sociais e sanitárias do país entre janeiro de 2020 até março de 2022. Os papéis mostram que o país teve a maior queda no Produto Interno Bruto (PIB) desde 1996. A inflação esteve dentro da meta em 2020 (4,52%), mas estourou em 2021, atingindo 10,06%.
Segundo os pesquisadores, outra consequência socioeconômica gerada pela crise sanitária global foi o aumento de desemprego, da violência, do nível de pobreza, a piora dos níveis educacionais, além de seus efeitos indiretos.
O desemprego bateu o recorde de 14,7% no primeiro trimestre de 2021, no meio de 2021, cerca de 30% do total de trabalhadores ocupados tinha renda de até um quarto do salário-mínimo da época (R$ 1.100). Entre 2020 e 2021, o número de pessoas com renda considerada muito baixa passou de 20,2 milhões para 24,5 milhões. “A renda per capita da população 10% mais pobre não superou os R$ 128 por mês, mesmo com auxílio emergencial, que foi a única fonte de renda em mais de 40% dos domicílios no Brasil”, diz trecho do estudo.
Os pesquisadores também analisaram a relação custo-benefício dos esforços financeiros empreendidos pelo governo federal. Destes, um total de R$ 784,9 bilhões, entre 2020 e 2022, foram direcionados ao combate da pandemia. Contudo, apenas R$ 67 bilhões foram destinados à aquisição de vacinas e de insumos para prevenção e controle da doença, representando 8,55% do total.
“Apesar dos impactos socioeconômicos negativos derivados da pandemia, dentre os países emergentes, o Brasil teve um dos maiores programas de combate ao novo coronavírus”, disse Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da GO Associados. De acordo com ele, o Brasil tem índices de vacinação maiores do que alguns países desenvolvidos e que começaram a vacinação antes.
Segundo a análise do professor, para cada R$ 1 investido em vacina, gerou-se um impacto positivo no PIB de R$ 9. “O governo brasileiro tomou inúmeras iniciativas no sentido de atenuar os custos da pandemia, mediante o auxílio-emergencial, apoio às micro e pequenas empresas, apoio à folha de pagamento, entre outras. A vacina ajuda a combater a pandemia sem machucar a economia”, pontuou.