VIOLÊNCIA EM TERRA INDÍGENA

Repercussão internacional faz aumentar pressão por buscas de Dom e Bruno

Após críticas pela falta de empenho nas buscas pelo indigenista e pelo jornalista, militares mobilizam tropas e recursos. Com outras equipes, passarão pente-fino na região onde os dois desapareceram

A grande repercussão do desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips — num trecho entre a comunidade ribeirinha de São Rafael e Atalaia do Norte, no Amazonas —, fez com que as autoridades se mobilizassem para saber o paradeiro dos dois. A operação comandada pela Marinha começou por terra, mas, com apoio do Comando Militar da Amazônia (CMA), foi ampliada com dois helicópteros para reforçar as buscas.

Os militares passaram a se empenhar depois de serem duramente criticados por causa de uma nota em que o Exército dizia ser capaz de cumprir uma missão humanitária de busca e salvamento, mas que "aguardava instruções superiores para iniciar a operação". Assim, logo cedo a Marinha destacou uma equipe de busca e salvamento com três embarcações e moto aquática — os helicópteros vieram depois.

Já o CMA anunciou a inclusão do 4º Batalhão de Aviação do Exército, que atuará no deslocamento dos agentes da Polícia Federal. Cento e cinquenta militares especialistas em operações na selva foram destacados para o local Bruno e Dom desapareceram.

A Superintendência da PF no Amazonas enviou aeronaves e equipes para as buscas na região compreendida entre a frente de proteção etnoambiental itui-itauqai e o município de Atalaia do Norte (AM). Também estão sendo empregadas nas buscas equipes do Ministério Público Federal (MPF), das polícias Civil e Militar amazonenses, da Força Nacional e da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Aventura

Em entrevista, o presidente Jair Bolsonaro (PL) comentou o desaparecimento de Bruno e Dom a firmou que "pode ser que tenham sofrido um acidente" ou que "tenham sido executados". Além disso, criticou-os pelo que chamou de "aventura não recomendável", pois estavam sozinhos em um barco.

"Duas pessoas apenas em um barco, numa região daquelas, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. As Forças Armadas estão trabalhando com muito afinco", disse.

Nas redes sociais, entidades ambientalistas e pessoas ligadas a Dom e Bruno se manifestaram, e aumentaram a pressão para que o governo se empenhe nas buscas pelos dois. A companheira do indigenista, Beatriz de Almeida, e seus dois irmãos, divulgaram uma carta cobrando informações.

"Tivemos poucas informações sobre a localização deles, o que tem aumentado esse sentimento (de angústia). Mas também temos muita esperança de que tenha sido algum acidente com o barco e que eles estejam à espera de socorro", diz a carta. Já a mulher do jornalista, Alessandra Sampaio, foi mais enfática.

"Autoridades brasileiras: nossas famílias estão desesperadas. Por favor, respondam à urgência do momento com ações urgentes. Governo do Brasil, onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira?", cobrou.

Melanie Hopkins, encarregada de negócios do Reino Unido no Brasil, salientou que "estamos em contato com autoridades locais e oferecendo apoio consular à família. Espero que tenhamos boas notícias em breve" — publicou numa rede social.

À noite, em frente à sede da Funai, em Brasília, uma vigília se formou para homenagear Dom e Bruno.

 Repercussão

The Guardian
O diário inglês traz reportagem sobre o vídeo que Alessandra Sampaio, mulher de Dom Phillips, postou nas redes sociais exortando as autoridades a intensificarem os trabalhos para encontrar "o amor da minha vida". "Quero fazer um apelo ao governo federal e aos órgãos relevantes para que intensifiquem seus esforços de busca, porque ainda temos alguma esperança de encontrá-los", cobrou.

BBC

Além de dar destaque ao vídeo da mulher do jornalista, emissora estatal britânica também destaca o vídeo publicado por Siam Phillips, irmã de Dom, cobrando das autoridades resposta para o desaparecimento do jornalista e de Bruno Araújo Pereira. Ela salientou que os dois tinham "profunda preocupação com o povo da Amazônia e sua população".

Diário de Notícias

O site traz o comentário do presidente Jair Bolsonaro de que Bruno e Dom podem ter sido mortos. "O presidente brasileiro, porém, também insinuou que os dois desaparecidos poderiam ter sido imprudentes ao entrar naquela região", diz a reportagem.

The New York Times

A edição eletrônica observa, na reportagem sobre o desaparecimento de Bruno e Dom, que "a Amazônia tem sido assolada, há décadas, pela violência entre pessoas que querem explorar a floresta tropical para obter lucro e aqueles que estão tentando detê-las. O Amazonas, onde Phillips e o Pereira desapareceram, sofreu aumento do desmatamento nos últimos anos, e está entre as áreas mais violentas da floresta".

AlJazeera

A emissora traz que a Marinha brasileira despachou um grupo de 10 militares para a operação que tenta localizar Bruno e Dom.

Clarín

O jornal enfatiza entrevista com Leonardo Lenin, do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e Recém-contatados, que reforçou as seguidas ameaças sofridas por Bruno devido ao trabalho que realiza nas comunidades do Vale do Javari.

rfi

A emissora francesa salienta a nota emitida pelo The Guardian sobre o desaparecimento de Dom Phillips, na qual condena a perseguição a jornalistas: "Condenamos todos os ataques e a violência contra jornalistas e profissionais da imprensa. Temos a esperança de que Dom e aqueles com quem viajava estejam a salvo e sejam encontrados em breve", destaca.

Le Monde

Jornal francês abre a reportagem denunciando a correria das forças do Estado diante da repercussão do desaparecimento: "Foi preciso a intervenção emergencial, na noite de segunda-feira, 6 de junho no Brasil, da Defensoria Pública da União, ligada ao Ministério da Justiça, para que a Polícia Federal e a Marinha utilizassem helicópteros e barcos para procurar o jornalista Dom Phillips e o antropólogo Bruno Pereira".

 

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