Minas Gerais

Médico é flagrado assistindo TV enquanto pacientes aguardavam atendimento

Santa Casa de Itapecerica alega que pacientes tinham passado pela triagem e poderiam aguardar até 4 horas, embora atendimento tenha ocorrido em 50 minutos

Um médico foi flagrado assistindo televisão enquanto pacientes aguardavam do lado de fora à espera de atendimento. Um homem registrou o episódio no pronto-atendimento da Santa Casa de Itapecerica, no Centro-Oeste de Minas, na noite deste domingo (5/6). Revoltado com a espera, ele gravou um vídeo onde o plantonista aparece em uma sala reservada com a TV ligada.

Na filmagem, o homem, que seria acompanhante de um dos pacientes, trata como “inadmissível” e mostra outras pessoas que esperaram para serem atendidas.

“Estamos aqui no hospital, precisando de atendimento, e o médico está assistindo televisão, deitado, de boa. É inadmissível isso. Um monte de criança aqui para ser atendida. Pessoal aqui, criancinha vomitando", desabafou.

O médico estava na sala chamada “repouso médico”. A janela fica para o lado da rua onde há o acesso de entrada para o pronto-atendimento. Foi possível filmar o plantonista pelas frestas da cortina. Ele está no que parece ser uma cama de frente para a televisão.

Posicionamentos

Procurada pela reportagem do Estado de Minas, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Itapecerica disse que a Secretaria Municipal de Saúde pediu uma averiguação sobre o ocorrido “durante o referido plantão e uma resposta da instituição da qual compra o serviço”.

Já a Santa Casa explicou que os médicos que atendem nas dependências atuam em regime de plantão, de 12 ou 24 horas, com início às 7h (diurno) e às 19h (noturno).

Ontem, o plantonista havia assumido às 7h e iria encerrar o plantão nesta segunda (6/6) no mesmo horário. O fato ocorreu, segundo a Santa Casa, por volta das 20h, quando havia quatro pacientes aguardando atendimento.

O hospital disse que “todos já haviam recebido atendimento inicial, passado pelo protocolo de acolhimento com classificação de risco (Protocolo de Manchester), como é praxe no âmbito do SUS. Todos os pacientes foram classificados com a cor verde, o que significava um tempo máximo de espera de 4 horas”.

“Instantes depois da classificação, que é realizada por enfermeira especialista, enquanto os pacientes aguardavam serem chamados para atendimento médico, o acompanhante de uma delas se dirigiu à área externa do hospital e fez imagens do médico plantonista descansando, em uma cama, em frente a uma televisão ligada”, diz a nota.

Repouso médico

O local das imagens, segundo a Santa Casa, é conhecido no meio hospitalar como “repouso médico”. “É o local onde estes profissionais, cujas jornadas e horários são notoriamente longos e estafantes, descansam entre os atendimentos”.

No caso dos plantões médicos, que caracterizam serviço contínuo, a lei (art. 71 da CLT) garante ao trabalhador o gozo de um descanso de até duas horas. Usualmente, a Santa Casa concede descanso de uma hora para cada plantão de 12 horas, além de de duas horas para os plantões de 24 horas, como no caso em discussão.

“A finalidade deste descanso não é só preservar a saúde do profissional, mas a qualidade dos seus serviços, de modo a garantir que os seus pacientes recebam um atendimento tão perfeito quanto possível, o que poderia ser prejudicado pelo cansaço e pela fadiga decorrentes de horas a fio de trabalho ininterrupto”, argumentou o hospital.

O Conselho Federal de Medicina dispõe que esta prática não configura nenhuma ilegalidade, desde que seja constatado que não existam pacientes necessitando de atendimento de urgência ou emergência, requisito observado pelo médico plantonista.

Por fim, a Santa Casa lamentou “que o ocorrido tenha sido mal interpretado pelos familiares da paciente envolvida no episódio” e reafirmou “seu completo e absoluto compromisso com a prestação de uma assistência médico-hospitalar humana, resolutiva e de qualidade”.

Veja as imagens: