MEIO AMBIENTE

Brasil patina em metas 6 meses após a COP

Na Escócia, o Brasil assinou acordos para zerar o desmatamento ilegal até 2028, reflorestar 18 milhões de hectares até 2030, reduzir emissões de metano, recuperar 30 milhões de hectares de pastagens, além de cortar pela metade gases de efeito estufa até 2030

Seis meses após a Cúpula do Clima (COP-26), os principais compromissos assumidos pelo Brasil em Glasgow ainda estão, em sua maioria, apenas no papel. Com o desmatamento e as emissões de gases do efeito estufa em alta, o País se aproxima da 27.ª edição, em novembro, no Egito, sem ter o que mostrar nos dois mais importantes pontos do acordo.

Na Escócia, o Brasil assinou acordos para zerar o desmatamento ilegal até 2028, reflorestar 18 milhões de hectares até 2030, reduzir emissões de metano e recuperar 30 milhões de hectares de pastagens.

Além disso, se comprometeu a cortar pela metade gases de efeito estufa até 2030, atingir a neutralidade climática (saldo zero entre emissões e absorções de carbono) em 2050 e a ter, em 2030, de 45% a 50% de suas fontes de energia renováveis.

Os esforços são mundiais e tentam conter o aquecimento em 1,5º acima dos níveis pré-industriais.

"A sociedade sabe quais são os elementos centrais desse debate e sabe como lidar, mas não está conseguindo implementar. Isso vale para a agenda da COP", diz Roberto Waack, presidente do conselho do Instituto Arapyaú e um dos fundadores do grupo Uma Concertação pela Amazônia, que reúne mais de 400 empresários, economistas, pesquisadores e políticos.

Alguns compromissos, como a redução na emissão de metano, tomam forma. Outros, como o fim do desmatamento ilegal, não aparecem no horizonte. Há avanços como o decreto para o mercado regulado de carbono e as metas de emissão setoriais.

O Brasil se comprometeu a zerar a derrubada ilegal das florestas até 2028. No entanto, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em abril, pela primeira vez para o mês, o desmate na Amazônia ficou acima de mil km2, área equivalente a mais de 140 mil campos de futebol.

O País teve em 2020 um aumento de 9,5% nas emissões de gases do efeito estufa em relação a 2019. A tendência mundial no mesmo ano foi de queda de 7%. Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.

Após pressão dos EUA, o Brasil aderiu ao Compromisso Global de Metano. O documento prevê reduzir as emissões do gás em 30% até 2030, ante os níveis de 2020.

Até 2030, 18 milhões de hectares precisam ser reflorestados. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área estimada de florestas plantadas totalizou, em 2020, 9,3 milhões de hectares. Ou seja, nos próximos oito anos o País precisa dobrar esse número. Para a ex-ministra Izabella Teixeira, o momento é de implementação de ações e não de formulação de planos.

O Brasil empenhou sua palavra em recuperar 30 milhões de hectares de pastagens. Entre 2010 e 2018 houve redução de 26,8 milhões de hectares degradados, de um total de 170 milhões de hectares no País, de acordo com a Universidade Federal de Goiás (UFG).

Por fim, a transição energética é considerada uma das áreas de maior potencial para o País. A maior parte da energia elétrica brasileira vem de hidrelétricas. Neste ano, apesar da pequena participação na matriz energética, o presidente Jair Bolsonaro prorrogou até 2040 a contratação de energia de uma usina a carvão em Santa Catarina. A medida gerou críticas de especialistas.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, a pasta tem implementado ações de descarbonização das matrizes energéticas, como leilões para a expansão do sistema elétrico, o Programa Combustível do Futuro e o marco para energia eólica offshore.

Já o Ministério da Agricultura afirma que o Plano ABC + tem como meta mitigar 1,1 bilhão de toneladas de carbono equivalente até 2030. Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não respondeu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.