Com a descoberta dos corpos de Bruno Araújo Pereira e de Dom Phillips, a Polícia Federal (PF) busca, agora, mais três suspeitos de envolvimento nos assassinatos do jornalista e do indigenista. Dois possíveis envolvidos no duplo homicídio estão presos: Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", e seu irmão Oseney da Costa de Oliveira, o "Dos Santos".
Os dois são suspeitos de participar diretamente da execução. "Pelado" confessou a participação e a do irmão nas mortes, e indicou aos policiais os locais onde foram cometidos os assassinatos e onde os restos mortais foram escondidos (veja mapa ao lado). Segundo a confissão, Bruno e Dom foram executados a tiros em um barco. Os corpos foram levados para uma área de difícil acesso, a mais de três quilômetros de mata fechada na margem do Rio Itaquaí, para serem esquartejados, incinerados e enterrados."Dos Santos", até o momento, não confessou a participação no crime.
Mas, segundo a PF, "Pelado" entregou que um terceiro homem participou do assassinato. Além desses suspeitos de envolvimento direto nas mortes, fontes ligadas aos investigadores apontam para um outro envolvido na remoção dos restos mortais. Os agentes buscam, também, o possível mandante do crime.
Ontem, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) assegurou a prisão de um terceiro suspeito, cujo nome não foi divulgado, mas a PF não confirmou. Segundo o superintendente da corporação no Amazonas, Alexandre Fontes, as investigações seguem em sigilo, e "novas prisões devem ocorrer a qualquer hora do dia". Ainda não se sabe a razão do crime, mas há suspeita de que a pesca ilegal na região seria o motivo.
A força-tarefa também realizou, ontem, buscas pela embarcação utilizada por Dom e Bruno antes de serem assassinados. Os criminosos afundaram-na no Rio Itaquaí depois dos assassinatos. Integrantes da PF, da Marinha e indígenas que vem guiando as buscas percorreram cerca de 12km pelo rio, nas proximidades da comunidade ribeirinha Cachoeira. Segundo a confissão de Amarildo, o barco foi afundado nesta localidade.
A operação usou mergulhadores, garatéias — um grande anzol com mais de um gancho — e redes para tentar localizar a embarcação no fundo do rio, mas nada conseguiu. Há a possibilidade de a correnteza ter mudado o barco de posição.
Também ontem, peritos concluíram que os traços de sangue encontrados no barco pertencente a "Pelado" não é do jornalista. Resta verificar se é de Bruno.
Conflito
Embora a motivação do crime ainda esteja sendo averiguada, o Vale do Javari é conhecido pelos conflitos entre os pescadores predatórios — que não respeitam os ciclos reprodutivos dos animais aquáticos da região —, povos indígenas e profissionais que atuam para a preservação do local.
Um documentário produzido poucos meses atrás pela rede de tevê Al Jazeera mostra um breve encontro entre Bruno e "Pelado". Nas imagens, quando as embarcações se aproximam, o pescador diz para o indigenista que aquela área é uma zona de pesca sem relação com a comunidade indígena no local. E diz para Bruno em tom hostil: "Tome seu rumo".
Segundo a Unijava, "Pelado" é conhecido por ameaçar o indigenista e integrantes das comunidades nativas. Pouco tempo antes do desaparecimento de Dom e Bruno, pescadores ilegais deixaram uma carta em tom ameaçador.
"Sei que quem é contra nós é o Beto índio e o Bruno da Funai (Fundação Nacional do Índio), quem manda os índios irem para a área prender nossos motores e tomar nosso peixe. Só vou avisar dessa vez que, se continuar desse jeito, vai ser pior para vocês. Melhor se aprontarem. Tá avisado", dizia a carta.
Bruno e Dom desapareceram em 5 de junho. Eles percorriam de barco os mais de 70km que separam o Lago do Jaburu do município de Atalaia do Norte (AM). Os dois foram vistos pela última vez às 6h daquele dia.
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