Depois de dizer, em uma entrevista concedida na última quarta-feira, que Dom Phillips era "malvisto" por muita gente na região devido às reportagens que fazia sobre o garimpo no Vale do Javari (AM), o presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou, ontem, pelo assassinato do jornalista inglês e do indigenista Bruno Araújo Pereira. Mas, assim mesmo, em resposta ao tuíte publicado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), lamentando o crime.
"Nossos sentimentos aos familiares, e que Deus conforte o coração de todos!", publicou. Antes, porém, com o crime confirmado, Bolsonaro chegou a anunciar no Twitter a redução de imposto de importação de videogame.
O presidente, aliás, está com viagem agendada para Manaus, mas o objetivo não tem relação com o duplo homicídio: participará de uma motociata na capital amazonense. Antes que os corpos dos dois fosse localizado, ele chegou a classificar a ida de Dom e Bruno ao Vale do Javari como "aventura" e "excursão", quando, na realidade, os dois estavam fazendo um trabalho junto às comunidades nativas da região.
Também somente ontem outros participantes da corrida presidencial se manifestaram pelo assassinato de Bruno e Dom. O pré-candidato ao Planalto pelo PDT, Ciro Gomes, publicou em seu Twitter que a morte brutal dos dois "mostra que a omissão dos governos criou mais que um estado paralelo, fez nascer um versão cabocla do Estado Islâmico, dentro do nosso território", disse. O pedetista ainda questionou: "E o tal general Heleno que, por uma eternidade, foi o vice rei de Amazônia, não tem nada a dizer? Ei, general, nada a dizer?" — provocou.
A pré-candidata do MDB, Simone Tebet, também se manifestou exaltando a coragem do jornalista e do indigenista. "É preciso dar um basta à impunidade. Meus sentimentos às famílias do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira neste momento inconsolável. Que a coragem desses dois defensores dos direitos humanos e do meio ambiente nos inspire a lutar", publicou.
Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à Presidência pelo PT, voltou a lamentar o assassinato de Bruno e Dom. Mas, dessa vez, o fez em nota assinada conjuntamente com Geraldo Alckmin (PSD), companheiro de chapa ao Palácio do Planalto.
"Nossa primeira palavra é de solidariedade aos familiares, amigos e amigas do indigenista e do jornalista. O mundo sabe que este crime está diretamente relacionado ao desmonte das políticas públicas de proteção aos povos indígenas. Está diretamente relacionado também ao incentivo à violência por parte do atual governo do país", critica a nota da chapa de Lula e Alckmin.
Estímulo
Os assassinatos são "monstruosos", mas devem encorajar, não dissuadir, a imprensa de continuar o trabalho de luta conta os crimes ambientais. A análise é de Jonathan Watts, editor da seção de Meio Ambiente do jornal The Guardian e amigo de Dom.
"Essa é uma história de terror que vai arrepiar qualquer jornalista, qualquer pessoa que se preocupe com a Amazônia, com os povos indígenas, com nossos sistemas globais de apoio à vida. Mas espero que inspire, em vez de dissuadir, editores e jornalistas a prestarem ainda mais atenção às questões com as quais Dom se preocupava", disse Watts.
O editor acredita que "o trabalho que Dom iniciou possa continuar e se expandir". E completa: "Para mim, essa seria a única maneira de algo bom sair de algo tão monstruoso".
Já para Pat Venditti, diretora executiva do Greenpeace no Reino Unido, os dois foram mortos enquanto faziam o trabalho de esclarecer as ameaças diárias que os povos indígenas do Brasil enfrentam ao defender suas terras e direitos. Ela acusa Bolsonaro de dar "licença política e moral" para realizar atividades predatórias dentro e ao redor das reservas.
"A maior homenagem que podemos prestar, agora, a Bruno e Dom é continuar seu trabalho vital até que todos os povos do Brasil e suas florestas estejam totalmente protegidos", disse.
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