Desde o início de maio, mais uma preocupação surgiu para o mundo: a varíola de macaco. Tipicamente endêmica de países da África, casos da doença foram registrados em países da Europa, Oceania, América do Norte e do Sul. São 131 casos confirmados e 106 suspeitos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e, embora nenhum tenha sido observado no Brasil, é necessário manter a vigilância.
A primeira notificação fora da África ocorreu no dia 7 deste mês. Já o primeiro caso registrado na história se deu em 1970, na República Democrática do Congo.
A origem dos surtos atuais ainda não foi identificada. No entanto, especialistas lembram que a varíola do macaco não se compara ao novo coronavírus, por exemplo, em termos de transmissibilidade ou mortalidade, de modo que a ameaça deve não ser tão grave. Vale lembrar que apenas pessoas com mais de 55 anos são vacinadas contra a varíola humana, imunizante que também protege contra a versão animal do vírus.
“Pela dinâmica de circulação de pessoas, muito provavelmente, em breve, nós teremos uma notificação dessa doença no Brasil também. E se chegar, a gente sabe que é uma doença transmissível também por gotículas e como já tem hoje liberação de máscaras, é muito provável que essa doença chegue e se transmita e a gente tenha mais casos aqui no Brasil”, avalia a infectologista Ana Helena Germoglio.
“Apesar desse alarde que está tendo, por ser uma doença que não era frequente, é uma doença que é mais ‘feia’ do que grave. A mortalidade é muito pequena quando a gente compara com outras patologias”, argumenta.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) criou uma comissão, em caráter consultivo, cujo papel será acompanhar a possível incidência da doença no país, e a pasta da Saúde monitora o quadro por meio de uma Sala de Situação, anunciada na última segunda-feira (23/5).
Para o infectologista André Bon, do Hospital Brasília, é preciso observar como os casos vão se desenvolver em outras regiões do planeta. “Já existe um alerta epidemiológico em relação ao que pode ser o critério de caso suspeito. Mas o risco de chegar no Brasil e existir um surto é indeterminado, a gente não tem como saber com um número tão pequeno de casos como temos agora”.
De acordo com ele, não há necessidade de um preparo específico para a doença, mas sim de se ter um protocolo para notificação, investigação adequada e rastrear contactantes e, nesse caso, o Brasil está pronto para lidar com a situação.
“Não existe a necessidade de uma preparação, neste momento, como por exemplo a vacinação da população, porque o número de casos no mundo inteiro é muito baixo. Então achar que isso é uma ameaça à saúde da população neste momento não é verdade. A gente precisa manter a vigilância, fazer rastreio de casos, isolamento, e toda aquela história que acho que a população já aprendeu bem, por conta da covid-19”, afirma.
Transmissão
A ''varíola dos macacos'' é conhecida desde 1958, quando foi diagnosticada em uma colônia de macacos. O nome veio em razão das semelhanças com a varíola previamente observada em outras espécies.
A transmissão da doença ocorre por meio de fluidos corporais, além de não estar acostumada a transitar em humanos, e por isso é considerada menos contagiosa, demandando um contato mais íntimo do que a covid-19, por exemplo, para passar de pessoa para pessoa. De acordo com a OMS, a doença é controlável, principalmente por esses fatores.
Uma vez contraído, o vírus fica incubado por um período de 5 a 21 dias. Os sintomas incluem febre, mal estar, dores, linfonodos inchados, fadiga e calafrios, além das características erupções cutâneas.
“As pústulas começam a aparecer no rosto e se espalham para outras partes do corpo, que podem incluir palmas das mãos e órgãos genitais. Durante o período da infecção as feridas passam por diferentes estágios”, explica o infectologista Hemerson Luz.
Conforme esclarece o especialista, a varíola do macaco é tratada com paliativos para os sintomas, que costumam desaparecer em cerca de duas a três semanas. A mortalidade depende da variante: se o vírus vier da África Ocidental, vai de 1% a 10%. Já se for da África Central, o número chega a 20%. A comunidade científica acredita que o tipo que está provocando os surtos é o primeiro.
*Estagiárias sob supervisão de Pedro Grigori.