A Gol e Avianca anunciaram, ontem, a fusão das duas empresas, que comporão o Grupo Abra — a junção das companhias brasileira e colombiana torna-se a maior holding do setor aéreo na América Latina. As empresas manterão voos independentes, mas o grupo que passam a formar terá participação na Viva, que opera na Colômbia e no Peru, e na Sky Airline, que atua no Chile.
A expectativa é de que a fusão possibilite a redução nos custos da Gol, que poderá repassar o recuo aos passageiros. As passagens aéreas no Brasil deram um salto vertiginoso por causa do aumento de custos, apesar da queda na frequência de passageiros.
O Grupo Abra terá Constantino de Oliveira Júnior, fundador da Gol, como CEO, sendo que Adrian Neuhauser, CEO da Avianca, e Richard Lark, CFO da Gol, serão copresidentes — ambos manterão seus cargos atuais, mas o controle da holding ficará sob responsabilidade dos principais acionistas da empresa colombiana e do acionista controlador da Gol.
As negociações devem ser concluídas no segundo semestre e precisam ser aprovadas pelos órgãos reguladores e concorrenciais do Brasil e da Colômbia. Isso porque haverá uma concentração do mercado aéreo nas mãos de um único grupo.
Redução duvidosa
Na visão da advogada Ana Terra Antunes Pagliuca, apesar do objetivo declarado pelo grupo seja o de reduzir o preço das passagens e serviços que o consumidor final paga, a fusão não garante um alívio no bolso. "O consumidor brasileiro já passou pela experiência de fusão de grandes companhias aéreas. Em um primeiro momento, a empresa pode, realmente, baixar seus custos, mas nada garante que haverá a redução do preço ao consumidor", ressaltou.
Segundo o gestor da Bluemetrix Renan Silva, a otimização da operação é fundamental para a redução de custos, pois será otimizada dentro de uma holding. "O poder de barganha junto aos fornecedores aumenta muito e, naturalmente, haverá um aumento de margem (de lucro). Se isso vai ser repassado aos consumidores não dá para prever, mas o fato é que a empresa fica bem mais competitiva em relação à concorrência e vai abrir margens para uma briga maior pelo passageiro", avaliou.
A Avianca tem um grave problema de imagem no Brasil. Isso porque a operação no país, que estava a cargo dos irmãos German e José Efromovich, encerrou-se em 2018, com o fim dos voos da empresa. A aérea pediu recuperação judicial e, em 2020, a Justiça de São Paulo decretou a falência. O ramo colombiano da Avianca, que não foi afetado, nada tem a ver com o brasileiro.
Com sede no Reino Unido, o Abra terá capital fechado e deve receber cerca de US$ 350 milhões em investimentos. No total, as receitas da Gol e da Avianca somam US$ 7 bilhões anuais. Atualmente, a empresa aérea brasileira tem valor de mercado equivalente a 38% do registrado antes da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus.
Depois da divulgação do fechamento do contrato, as ações da empresa brasileira apresentaram alta de 3%, por volta do meio-dia, batendo os R$ 13,72. Mais tarde, porém, os papéis oscilaram e chegaram a ser negociados a R$ 12,86.
*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi