Amazônia

Desmatamento na Amazônia avança 74% em abril

Amazonas e Pará somam 62,5% do território desmatado no Brasil. Rondônia também tem alto índice, principalmente na capital, Porto Velho

Dados divulgados, ontem, pela plataforma Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que entre 1º e 29 de abril ao menos 1.000,8km² de matas amazônicas foram desmatadas. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve um avanço de 74% na devastação.

Trata-se do pior resultado da série desde que começou a ser monitorada, em 2004. Amazonas e Pará somam 62,5% do território desmatado no Brasil. Rondônia também tem alto índice, principalmente na capital, Porto Velho, que apresentou 525.73km² de devastação.

No Amazonas, três municípios se destacaram como foco da destruição da floresta: Lábrea (576.87km²), Apuí (422.51km²) e Humaitá (204.92km²). No Pará, Altamira (539.13km²), São Felix do Xingu (386.68km²) e Novo Progresso (311.02km²) têm os piores índices. Já no Mato Grosso, em Colniza a devastação avançou 312.77km².

pacifico - desmatamento brasil

Entre as atividades que são a causa da destruição do bioma estão a abertura de área para pasto e a extração de madeira ilegal — muitas vezes próximas às áreas de proteção ambiental, que deveriam ser fiscalizadas pelo governo. "Altamira e Lábrea têm histórico de desmatamento. A primeira, por conta da usina de Belo Monte, do garimpo, da grilagem e da extração de madeira ilegal. Lábrea, no sul do Amazonas, é a nova fronteira de desmatamento. O que temos nesses estados e nessas cidades é uma ação muito grande de crime ambiental e fiscalização praticamente nula", criticou Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

Ele destaca outro ponto para o crescimento da destruição: o ano eleitoral. "No ano eleitoral, as pessoas que apostam no desmatamento por lá estão aproveitando porque pode ser o último ano de mandato do (presidente Jair) Bolsonaro", disse.

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Vetor

O atual governo, aliás, é apontado como um dos vetores para o avanço da devastação. "A fragilização dos órgãos de fiscalização ambiental não é por acaso. É um projeto perverso que tem como um dos principais resultados a prescrição de crimes ambientais sem que os criminosos sejam punidos. Com a certeza da impunidade, o que já está ruim tende a piorar, caso projetos de lei que visam legalizar a grilagem de terras, flexibilizar o licenciamento ambiental e abrir terras indígenas para mineração sejam aprovados na Câmara e no Senado", disse o coordenador de Amazônia do Greenpeace Brasil, André Freitas.

Na opinião de Raul Valle, diretor de justiça socioambiental do World Wide Fund for Nature Brasil (WWF), o Brasil cada vez mais está em uma situação delicada. "Isso é muito grave para o país, significa que estamos acelerando em direção ao precipício. O café que é produzido em Minas, a cana que é produzida em São Paulo, a soja que é produzida no Paraná — todos dependem de chuvas. E essa chuva depende da existência da Floresta Amazônica", alertou.

Valle observa, também, que a destruição do bioma impactará a economia do país. "A ciência já nos mostrou que se mais de 20% dessa floresta for desmatada, for destruída por pastagem — que é o que está acontecendo agora —, pode irreversivelmente se degradar, se transformar em uma área árida, que não vai mais conseguir produzir a chuva que alimenta o Brasil e o mundo. É a nossa sobrevivência econômica que está em jogo".