O boletim InfoGripe, publicado semanalmente pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), alerta para o possível crescimento no número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em adultos. De acordo com os dados divulgados ontem, 14 estados apresentaram aumento de diagnósticos da doença nas últimas seis semanas. O resultado acendeu a luz amarela dos pesquisadores, pois a tendência de elevação estava sendo verificada somente em crianças (zero a 11 anos).
A constatação veio a partir de informações inseridas no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) ao longo de abril — veja gráfico. De acordo com pesquisadores, o não uso da máscara é um dos principais fatores para o crescimento do número de casos. O retorno das aulas presenciais turbinou a disseminação do vírus.
"A gente observa uma mudança de comportamento importante, e preocupante, infelizmente. Porque a gente tinha, desde fevereiro até fim de março, um crescimento muito específico nas internações por problemas respiratórios no público infantil, mas associados a outros vírus respiratórios, que aproveitaram esse momento de relaxamento do uso de máscara, de volta às aulas presenciais, para chegar nessas crianças", detalhou Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.
As unidades que registraram elevação nos casos de SRAG foram Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Santa Catarina. Para Gomes, o levantamento pode servir de indício para a relação dos casos de SRAG com os de covid-19 ou com uma retomada de incidência do vírus Influenza A, responsável pela gripe.
"É justamente o fato de isso estar acontecendo agora na população adulta que acende um alerta, porque nessa faixa etária o mais provável é que o crescimento esteja associado à covid. Isso porque esses outros vírus respiratórios que estavam afetando as crianças dificilmente desencadeiam um quadro grave na população adulta que acabe necessitando de internação, isso acontece geralmente com a covid", explicou.
Cenário pior
O infectologista Hemerson Luz acrescenta que o cenário pode piorar com a chegada do inverno, a partir de junho. Em quadros mais graves, quando o paciente com Síndrome Gripal (SG) evolui para SRAG, os sintomas podem incluir falta de ar ou desconforto para respirar, sensação de pressão no peito, queda na saturação de oxigênio e coloração azulada de lábios ou rosto (cianose).
Luz ressalta, ainda, que a máscara deve ser utilizada por todas as pessoas que tenham algum sintoma da SG. Para ele, eventos com aglomeração em locais de ventilação precária devem ser evitados devido ao risco de circulação dos vírus causadores da SRAG.
"O uso da máscara deve ser incentivado entre as pessoas com suspeita de um quadro de síndrome gripal e entre as pessoas que não fizeram reforço da vacina ou não se vacinaram, principalmente acima de 70 anos ou portadores de doenças que alterem o sistema imunológico", disse.