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Racismo: no mesmo dia, crimes no metrô e na Câmara indignam brasileiros

Em São Paulo, mulher reagiu porque cabelo de passageira encostou nela. E vereador paulistano fez comentário em plenário

A cidade de São Paulo registrou, ontem, dois casos de racismo, que mobilizaram as autoridades e agitaram as redes sociais. O primeiro aconteceu no metrô da cidade, quando uma mulher reclamou do cabelo de outra passageira, negra, e por pouco não foi linchada — precisou sair do vagão protegia por seguranças. O segundo foi durante sessão da Câmara Municipal, quando o vereador Camilo Cristófaro (PSB) fez um comentário preconceituoso e tentou, depois, se justificar com duas versões diferentes.

O caso do metrô ocorreu na última segunda-feira, na estação Ana Rosa da Linha 1-Azul. Por volta das 18h, duas passageiras se desentenderam dentro do vagão e uma acusou a outra de racismo, conforme vídeos que circularam nas redes sociais. Agnes Vajda, de 44 anos, funcionária do Consulado da Hungria, reclamou que o cabelo de Welica Ribeiro, de 35 anos, estava encostando nela, dentro do vagão — disse, inclusive, que poderia "transmitir doença".

No vídeo em que uma mulher reclama da outra, o tumulto se forma dentro do vagão e os passageiros começam a gritar para que as portas não sejam abertas até que a polícia chegue. As imagens mostram, também, Agnes, já na estação, protegida por um cordão de isolamento para evitar que as pessoas — que gritavam "racista, racista" — a agredissem.

As duas foram para a delegacia, onde foi registrada a injúria racial. A representação diplomática húngara não quis se manifestar, afirmando apenas que aguardará as investigações.

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No Legislativo

O segundo episódio de racismo aconteceu dentro da sede do Legislativo paulistano. Durante a reunião da CPI dos aplicativos de transporte — que investiga as empresas do setor que atuam na capital paulista —, ontem de manhã, o vereador Camilo Cristófaro (PSB), que acompanhava os trabalhos remotamente, soltou o seguinte comentário sem perceber que o áudio estava aberto. "Não lava nem a calçada. Coisa de preto, né?".

Depois de a fala ecoar no plenário, o presidente da CPI, vereador Adilson Amadeu (União Brasil), tentou amenizar a situação pedindo que os técnicos fechassem o áudio de Cristófaro. Mas a parlamentar Luana Alves (PSol) o interpelou. "Não dá, vereador, já está registrado", disse.

A sessão foi suspensa e, ao ser retomada, a vereadora avisou que o comentário de Cristófaro não passaria sem punição. "Queria pedir à Secretaria da Mesa as notas taquigráficas, pois ficará registrado. Todos aqui são testemunhas para as ações posteriores que venham decorrer dessa fala", anunciou.

Cristófaro tentou se defender dizendo que o comentário fora feito por causa de carros que coleciona. Mas, depois, deu outra versão, afirmando que estava brincando com um amigo.

Não é a primeira vez que Cristófaro é acusado de racismo. Em setembro de 2019, criticou em plenário o colega Fernando Holiday (Novo) e o chamou de "macaco de auditório". Meses antes, outro parlamentar, George Hato (MDB), denunciou o vereador do PSB por preconceito racial — sofrera deboche por causa da origem japonesa.

Especialistas afirmam que a praticidade da tecnologia, com a gravação de vídeos pelos celulares, e o alcance das redes sociais facilitam a realização das denúncias. Dados do Ministério Público de São Paulo mostram que os procedimentos para investigar denúncias de injúria qualificada (com base no Código Penal) saltaram de 97, em 2020, para 708 no ano passado. Procedimentos englobam inquéritos policiais, notícias de fato, termos circunstanciados, medidas cautelares, prisões em flagrante e procedimentos investigatórios criminais.

O aumento também foi significativo nos casos de preconceito de raça ou de cor baseados na Lei Antirracismo (Lei 7.716), que passaram de 265 em 2020 para 427 no ano passado.