As chuvas que castigaram Pernambuco no fim de semana foram responsáveis, só na Região Metropolitana de Recife, por 84 mortos e 56 desaparecidos (até o fechamento desta edição). Nove municípios decretaram estado de emergência. O número de desabrigados chega perto de 4 mil.
De acordo com a MetSul, o desastre é resultado de 700mm de chuvas acumuladas no mês, mais do que o dobro da média para o período. Os dados mostram que os volumes no mês de maio estão acima da média histórica — até sábado, ficou em 510mm em São Lourenço da Mata, 535mm em Cabo de Santo Augustinho, 558mm em Igarassu, 631mm em Abreu e Lima, 635mm em Olinda, 660mm em Jaboatão dos Guararapes e 693mm em Recife.
Conforme a empresa de meteorologia, o período crítico de chuva foi entre o fim da sexta-feira e a manhã de sábado, quando vários bairros da Grande Recife registraram precipitações com acumulados extremos em curto período. "Em apenas doze horas, algumas estações reportaram 200mm a 250mm de precipitação", informou o MetSul.
Com tanta chuva, a capital pernambucana passou por transtornos no sábado, paralisando o metrô e as linhas de ônibus. Um morador da capital contou que foi difícil chegar em casa, após o trabalho no Aeroporto Internacional. "Para chegar aqui, na Avenida Recife, tive que vir andando do trabalho por, pelo menos, 13km porque não passava carro, ônibus e o metrô da cidade parou. Ainda estou com as pernas doendo, mas as chuvas deram uma trégua", disse com uma ponta de alívio.
Na edição de ontem, o Correio informou que o aeroporto havia fechado no dia anterior devido às chuvas e à queda de um muro. Mas o terminal, apesar dos transtornos, não interrompeu as operações, no sábado.
Douglas Brito, ativista do SOS Águas Pernambuco, contou que um grupo foi criado para auxiliar no resgate das vítimas. Os voluntários preparam café da manhã, almoço e jantar aos desabrigados. "Tem lugar que a gente não conseguiu acessar porque a água não escorreu e a caminhonete não chega", disse Brito.
"Em Ibura (bairro do Recife) foi a maior tragédia, com mais de 11 pessoas soterradas. Em Caetés III, encontramos três corpos, de uma mãe, da avó e de um menino de 10 anos. Outra criança foi levada para a UPA, mas chegou sem vida na unidade. O pai dessa família perdeu quatro pessoas de uma vez", descreveu o ativista.
De acordo com ele, há pouca presença do Poder Público na área em que os voluntários estão atuando. "Quem se ajuda é a população. No sábado, para poder fazer o recolhimento dos corpos em Caetés III, tivemos que colocar os corpos da primeira família em uma casa, enrolados em lençóis, até o IML chegar. No caso, só chegou neste domingo", disse.
O governador do estado, Paulo Câmara (PSB), disse ontem, em um vídeo publicado em sua rede social, que os bombeiros que tiveram sua nomeação antecipada já estão em campo.
"As Forças Armadas disponibilizaram o efetivo aos municípios. O trabalho também é continuar atuando nas áreas críticas e, ao mesmo tempo, restabelecer os serviços funcionando no âmbito das cidades", afirmou. O governo estadual anunciou liberação de R$ 100 milhões para municípios atingidos.
Ajuda bilionária
O ministro do Desenvolvimento Regional, Daniel Ferreira, em entrevista na Base Aérea de Recife, informou que o governo federal vai reconhecer a situação de emergência e que liberará recursos adicionais. A pasta, segundo Ferreira, dispõe de R$ 1 bilhão para ações de socorro. Ontem, o presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) anunciou o repasse de R$ 2,5 milhões como primeira remessa para Alagoas, outro estado atingido pelos temporais.
A Defesa Civil também realizou uma reunião, ontem, para discutir as ações federais de apoio a Pernambuco e Alagoas. Balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF) alerta que a BR-232, entre Jaboatão dos Guararapes e Moreno, ficou parcialmente interditada.
Pelo Twitter, Bolsonaro informou que visitará hoje o estado para tomar pé da situação. Mas o Planalto não entrou com contato com o governador do estado, segundo apurou a Folha de S.Paulo. De acordo com o jornal, "o presidente não falou com o governador" nem "foi convidado para nenhuma reunião com os ministros".
O impacto dos temporais levou nove municípios a decretar situação de emergência: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, São José da Coroa Grande, Moreno, Nazaré da Mata, Macaparana, Cabo de Santo Agostinho e São Vicente Ferrer.
O Ministério da Saúde também acompanha a tragédia em Pernambuco e Alagoas. A Força Nacional do SUS, segundo a pasta, foi acionada para reforçar o atendimento às vítimas, enviando profissionais, recursos materiais, equipamentos e insumos em apoio aos estados atingidos. Em coletiva, ontem, Marcelo Queiroga alertou para os problemas sanitários decorrentes das inundações.
"Com essa tragédia, há uma série de problemas de saúde que podem advir, situações que podem levar à desidratação, como diarreias agudas, além da intensificação dos casos de síndromes respiratórias, decorrentes de situações virais com fortes chuvas."
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