Por causa das baixas temperaturas em várias regiões do país, a proximidade do inverno — que começa em 21 de junho — e o relaxamento das medidas de proteção contra a covid-19, o sistema de saúde detectou um avanço nas doenças respiratórias. O alerta é do mais recente boletim InfoGripe, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
De acordo com o relatório, o novo coronavírus tem facilitado os casos de infecção nas vias aéreas — 48% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave registrados entre 15 e 21 de maio foram atribuídos ao novo coronavírus, percentual que chegou a 35% em meses anteriores, bem como 84% das mortes por SRAG.
"Enquanto fevereiro e março foi o momento de outros vírus aproveitarem a nossa baixada de guarda — e aí tiveram um impacto muito grande no público infantil —, agora a gente vê a covid também aproveitando esse momento de maior exposição, porque a gente deixou de usar a máscara em praticamente todos os ambientes. Isso tem um custo", avaliou o pesquisador em saúde pública e coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes.
Dezessete estados, além do Distrito Federal, apresentam crescimento na tendência de casos de SRAG nas últimas seis semanas: Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins. Além disso, as taxas de ocupação em leitos infantis nas unidades de terapia intensiva (UTI) tem se aproximado da totalidade. O DF registrou a porcentagem mais alta (97,3%), seguido por Santa Catarina (63%) e São Paulo (44%).
"Voltou a crescer os casos de covid em praticamente todas as faixas etárias, em diversos estados. E, no público infantil, aqueles outros vírus ainda não dão sinal de queda significativa. A gente está num cenário, fundamentalmente, de manutenção de patamar elevado de internação de crianças por problemas respiratórios", acrescentou Marcelo Gomes.
Para Christovam Barcellos, coordenador do Observatório Nacional de Clima e Saúde — plataforma vinculada à Fiocruz —, a imunização contra o coronavírus é essencial para frear o avanço das SRAGs. "As vacinas se concentraram muito em adultos. Isso fez liberar as UTIs e, agora, as crianças são o foco. O inverno é perigoso e é bem possível que, com a endemização da covid, o pico venha na estação", adverte.
Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explicou que o aumento expressivo da incidência de doenças respiratórias é comum nesta época do ano. Mas o avanço da SRAG foi em função da covid-19.
"O coronavírus não deixou esses outros vírus circularem. Crianças fora da escola, usando máscaras, pais em distanciamento, isso tudo criou um cenário de silêncio desses outros vírus respiratórios nos dois últimos anos. O que contribui para a onda desses vírus respiratórios", explicou.
*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi
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