Terras indígenas

Cientistas do Brasil e EUA divulgam alerta sobre mineração em terras indígenas

Em carta divulgada na revista Science nesta quinta-feira (26/5), pesquisadores dizem que argumentos para exploração de potássio são "desculpa" para destruir a Amazônia

Taísa Medeiros
postado em 26/05/2022 17:21 / atualizado em 26/05/2022 17:21
 (crédito: Rodrigo Nunes/Esp.CB)
(crédito: Rodrigo Nunes/Esp.CB)

Em carta divulgada na revista Science, nesta quinta-feira (26/5), pesquisadores alertam para o perigo de projetos que versam sobre a abertura de terras indígenas para mineração — especialmente o projeto de lei 191/2020. O governo federal pediu urgência na tramitação da proposta no Congresso com o argumento de que haveria prejuízos na importação de fertilizantes à base de potássio vindos da Rússia, devido à guerra. Para os cientistas signatários da carta, essa é uma desculpa para a destruição da Amazônia.

O PL ganhou força desde o início da guerra na Ucrânia. Em março, Jair Bolsonaro (PL) defendeu que o potássio, um dos fertilizantes essenciais usados na agricultura brasileira, pode faltar ou ainda encarecer em razão da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Com isso, voltou a justificar a exploração do mineral em terras indígenas — e insistiu neste argumento incontáveis vezes.

“O argumento é falso. Primeiramente, a jazida não fica dentro de terras indígenas, então não teria por que a Lei ser aprovada com base nesta justificativa. Além disso, não teria tempo hábil para construir a mina para resolver o problema atual de potássio. Devemos levar em conta, também, que existem alternativas, como o próprio potássio brasileiro fora da Amazônia, que é suficiente para suprir a demanda brasileira até 2100, e outros exportadores mundiais, como o Canadá”, explica Philip Fearnside, um dos cientistas que assinam a carta, à Agência Bori.

O texto é assinado por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Grupo de Ecologia Aquática, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade Federal do Tocantins (UFT), da University of Wisconsin–Madison, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Demarcação de terras indígenas

A carta também critica outro projeto de lei que fragiliza a proteção das terras indígenas. O projeto de lei 490/2007, que altera a legislação da demarcação de terras indígenas, tramita com urgência no Senado com apoio da bancada ruralista e do governo federal.

O projeto de lei institui o chamado “marco temporal”, que define como terras indígenas somente aquelas que estavam ocupadas pelos povos tradicionais em 5 de outubro de 1988, dificultando os procedimentos de demarcação. “

Segundo dados da Agência Bori, atualmente, existem 303 terras indígenas em processo de obtenção de proteção que poderiam ser impedidas de homologação, caso o PL 490/2007 fosse aprovado. “Já estamos vivendo um surto de invasão às terras indígenas”, acrescenta o cientista.

“Tudo isso é um motor para o desmatamento. A razão de existir a demarcação de terras indígenas são os direitos humanos assegurados a estes povos, mas também tem uma função ambiental. O Brasil depende de manter a Floresta Amazônica”, alerta Fearnside.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação